Em Casa Izabel, provocativo filme do cineasta paranaense Gil Baroni que agora chega aos cinema, somos transportados para o Brasil de 1970, em plena ditadura militar. A história começa com a chegada de um homem corpulento e visivelmente reservado, interpretado por Andrei Moscheto, a uma imponente propriedade rural chamada Casa Grande Izabel.
O visitante é introduzido de maneira autoritária, porém cordial, às rígidas normas do estabelecimento, que opera como um hotel-fazenda peculiar.
Entre as regras estão a obrigação de deixar armas na recepção, a proibição de discussões pessoais entre os hóspedes e a estrita proibição de qualquer atividade sexual. Mais tarde, ele é conduzido por Leila (Jorge Neto), na verdade um jovem que se veste como mulher, ao andar superior, onde pode escolher trajes femininos e adotar um nome feminino à sua escolha. Ele opta por Regina, significando rainha em latim.
À medida que a narrativa se desenrola de maneira tensa e envolvente, misturando mistério e humor, descobrimos que a Casa Izabel é um refúgio incomum para homens maduros e casados. Esses homens, todos militares de carreira no mundo exterior, buscam viver fantasias de feminilidade por meio de roupas luxuosas e da criação de um ambiente de camaradagem baseado em segredos compartilhados.
Casa Izabel se revela uma alegoria à moda do cineasta espanhol Luis Buñuel, explorando as camadas de hipocrisia e poder na sociedade brasileira da época.
Casa Izabel se revela uma alegoria à moda do cineasta espanhol Luis Buñuel, explorando as camadas de hipocrisia e poder na sociedade brasileira da época. Esta obra é mais uma demonstração brilhante de Gil Baroni, conhecido por dirigir Alice Júnior, uma premiada comédia dramática adolescente sobre uma jovem trans. Casa Izabel tem um tom mais sério e perturbador ao explorar o que está oculto nas sombras de uma sociedade orgulhosa de suas convenções conservadoras.
A casa leva o nome de sua proprietária, uma figura interpretada de maneira magnífica por Luís Melo, que vive reclusa em um quarto insalubre, assistindo a filmes caseiros que relembram os dias de glória da propriedade. O roteirista Luiz Bertazzo se baseou livremente em Casa Susanna, livro de fotografias que mostra os frequentadores do lugar que lhe dá título: homens estadunidenses travestidos de mulher que se reuniam secretamente, entre os anos 1950 e 60, aos fins de semana nessa propriedade isolada, em Catskills, no estado de Nova York
O elenco de Casa Izabel, aclamado como o grande vencedor em 2023 no Cine PE em Recife, é verdadeiramente espetacular. O filme conta com performances memoráveis de grandes atores paranaenses como o saudoso Luiz Carlos Pazello, Zeca Cenovicz, Sidy Correia, Otávio Linhares, Fábio Silvestre e a revelação Jorge Neto, que se destaca no papel de Leila. Laura Haddad, uma das produtores do longa, também brilha como a governanta da propriedade que dá título ao filmes.
Filmado em 2019, Casa Izabel não apenas resgata o passado, mas também lança luz sobre um Brasil contemporâneo que continua a enfrentar estruturas de poder oligárquicas, patriarcais e moralistas. Este é um filme que não apenas nos faz refletir sobre nosso passado recente, mas também nos desafia a considerar os desafios atuais e futuros em relação às questões de identidade e poder na sociedade brasileira.
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