Novo longa-metragem de Wim Wenders (de Asas do Desejo, Buena Vista Social Club e O Sal da Terra), Tudo Vai Ficar Bem levanta a bola para o trocadilho infame do título deste texto. O filme conta a história de Tomas (o insosso James Franco), um escritor que, após ter uma discussão com sua namorada, atropela e mata uma criança. Esse acontecimento afeta a vida do autor, que passa a viver em crise pelo ocorrido.
Este trágico acidente acelera a deterioração da relação de Tomas com Sara (Rachel McAdams). Enquanto o personagem de Franco era focado exclusivamente em sua carreira, na criação de seus livros, Sara ansiava formar uma família e ter filhos, um desejo nem de longe partilhado pelo escritor. E, se já havia um distanciamento natural por conta dos objetivos distintos, o atropelamento do filho de Kate (Charlotte Gainsbourg, em atuação sóbria) termina por implodir os resquícios de amor entre a dupla.
Enfiado em sua solidão, Tomas procura – até por pressão de seu editor e de seu pai – buscar forças no trabalho, elaborando uma nova obra. Entretanto, é como se sua mente não conseguisse apagar da memória o olhar desesperado de Kate ao ser confrontada com a morte do filho. Por isso, os retornos à cidade e ao local do acidente, ainda que não recorrentes, parecem servir como uma forma de penitência, um ajoelhar no milho metafórico. E a partir daí a vida de Tomas toma um novo rumo, numa tentativa do personagem de seguir definitivamente em frente.
Era de se esperar mais de um longa-metragem que conta com Rachel McAdams, Charlotte Gainsbourg e o próprio Franco.
Não é novidade para a história do cinema roteiros que abordem vidas afetadas por tragédias. Mas era de se esperar mais de um longa-metragem que conta com Rachel McAdams, Charlotte Gainsbourg e o próprio Franco. Este último, difícil de definir se apenas por atuação fraca ou mesmo por falhas no roteiro (que não são poucas), não consegue criar empatia na tela. A tristeza e a depressão de Tomas simplesmente não convencem. Ainda que consiga demonstrar um relativo desinteresse com a vida, o que poderia ser constatado como depressão, o personagem de Franco parece muito mais frustrado com os caminhos que sua vida tomou do que propriamente com o fato de ter atropelado e matado uma criança.
O roteiro de Bjørn Olaf Johannessen apela constantemente para o melodrama, privilegiando diálogos pretensamente dolorosos ou sequências de profundo silêncio e introspecção dos atores. Desta forma, ao invés de transmitir dor ou mesmo um período de reflexão, aparenta mais a falta do que dizer, a inabilidade do roteiro em aprofundar na mente de Tomas e dos envolvidos nos acontecimentos, de forma a dar um mínimo de veracidade à dor que insiste em que sintamos.
Fica a torcida para que o desfecho de Tudo Vai Ficar Bem deixe os espectadores ao menos consolados. De resto, sofríveis quase duas horas.
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