O interesse de Matías Piñeiro pelo teatro, a literatura e pela juventude que habita a Buenos Aires de seus dias está presente em sua trilogia chamada de “Las Shakespereadas”, exibida no Olhar de Cinema e constituída pelos longas Rosalinda (2011), Viola (2012) e La Princesa de Francia (2014), filmes femininos, que juntos criam uma potência de significados, mas também funcionam independentes.
Olhamos atentamente para o filme Viola, em que jovens ensaiam um texto teatral que une sete peças de William Shakespeare, algumas peças surgem em apenas uma frase, apenas uma frase de Shakespeare pode causar grandes efeitos; apenas uma frase pode ser a nossa transformação e nossa ruína.
Matías Piñeiro une frases, referencias, imagens, planos e atuações, conservando sua própria linguagem, constituindo uma obra que não despreza as formas de expressões, mas agrega a arte em seus enquadramentos.
Os enquadramentos de Piñeiro carregam o espectador para dentro da tela do cinema, com a câmera-olho sentimos como se fizemos parte das conversas.
Os enquadramentos de Piñeiro carregam o espectador para dentro da tela do cinema, com a câmera-olho sentimos como se fizemos parte das conversas, não temos a visão ampla do que constitui a cena, seus planos enquadram os rostos daqueles que falam.
Assim como olhamos para aquele que profere palavras enquanto estamos em uma roda de bate-papo, olhamos para a personagem que diz. Não somos apenas observadores, que flanam pela tela do cinema, nossos olhares estão nestas cenas e constroem significados narrativos, até mesmo ao imaginarmos os rostos e reações das personagens que estão junto de nós, fora de quadro.
As atrizes desempenham seus papéis com facilidade e naturalidade, o cineasta escreve seus roteiros pensando na atriz que interpretará suas personagens, o que pode ser o ponto alto das atuações que seduzem sua câmera. Matías não deixa seu elenco em uma posição cômoda: Maria Villar é Mercedes Montt em O Homem Roubado, uma mulher ativa; em Viola, interpreta uma mulher passiva; e em La Princesa de Francia, interpreta uma personagem decidida.
Retomando a narrativa de Viola, nota-se a teia de intrigas românticas e as ligações superficiais que constituem as relações das personagens; conversas sobre amores, formas de encarar os sentimentos e o cotidiano, olhadas pelo outro, julgadas e colocadas em dúvida; há a simulação da atuação, a interpretação do outro na leitura e na sedução do texto de Shakespeare, enquadrado na tela do cinema; critica-se o que de fato é sentido ou é automatizado, se a vida e as relações que imergem delas são simulacros ou sentimentos.
Em suma, Matías Piñeiro empresta da rotina do dia a dia, de narrativas mínimas, o pulso de vida, as palavras, os textos de Shakespeare, que potencializam as formas de viver e simular a própria vida, com vigor e técnica cinematográfica.
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