Di Melo é daquelas pessoas que transbordam simpatia e são capazes de transmitir por meio de um abraço muito da sua positividade, energia da qual o festival Psicodália se alimenta, respira e transpira.
Já Liniker dá outra face para o evento, levando para a 20ª edição a força do amor que transcende barreiras e nos faz pensar, desmontar e remontar conceitos.
Representantes do mesmo gênero musical, o soul, Di Melo e Liniker se apresentaram um na sequência do outro no sábado de carnaval (25) e mostraram aspectos complementares da festividade, o de valorizar artistas consagrados, mas “esquecidos”, e o de enxergar as novas tendências da cena musical. Por outro lado, os dois representantes da música negra têm em comum o fato de colocar o amor em sua obra e em sua postura, podendo ser vistos como representativos em um recorte do evento que reuniu um público de 6.500 pessoas, que tiveram disponíveis 52 atrações musicais e 63 oficinas além de atividades como teatro, cinema e recreação infantil.
No entanto, embora algumas das atrações possam ser colocadas em números, outras são impossíveis de figurar nas estatísticas, como os sorrisos, por exemplo.
Responsável por boa parte deles, Di Melo começou a distribuí-los já na entrevista coletiva. Com seu agradável sotaque (ou variação linguística, pra não se afastar da universidade mesmo no carnaval), braços e sorrisos abertos, o pernambucano recebeu a imprensa com um convidativo “Venha cá!”, abraçando todos os presentes antes de começar o bate-papo no qual demonstrou por meio das palavras o alto astral que faz parte da sua identidade.
“Durmo tranquilo. Rico? Porra nenhuma”. A busca pela harmonia em detrimento do conforto material mostra um dos aspectos que fazem com que a personalidade do músico de 67 anos esteja ligada aos ideais dos presentes na Fazenda Evaristo.
Sobre essa questão, o cantor, que lançou em 2016 o álbum Imorrível após 41 anos da sua estreia, conta como passou esse período de afastamento: “Perdi parte da minha vida fazendo aquilo que eu mais gosto: vagabundear”.
Visto até como morto por alguns, como revela o documentário homônimo ao disco, Di Melo diz ter passado um período desenergizado e desmotivado para tudo, mas que agora está em seu melhor momento, guardando (por enquanto) 12 músicas inéditas em parceria com Geraldo Vandré e uma com Baden Powell, obras que pretende lançar nos próximos quatro ou cinco discos que planeja. “Tô danado demais!”, diz, sempre entre sorrisos.
No entanto, embora algumas das atrações possam ser colocadas em números, outras são impossíveis de figurar nas estatísticas, como os sorrisos, por exemplo.
E uma das causas para esse ótimo momento parece ter sido proporcionado pela própria celebração realizada em Rio Negrinho (SC), que para ele é “uma janela para o mundo. Me sinto flutuando”.
Outro energizante que fez com que ele prevaleça imorrível vem da banda curitibana Trombone de Frutas com quem se apresentou no Psicodália e em diversas outras ocasiões, desenvolvendo uma harmonia que para ele é natural e mostra outra confluência da sua personalidade com a festa: “Para mim é uma grande honra, porque o amor e a música não têm idade”.
E essa junção do “útero ao agradável”, como ele mesmo diz, se tornou ainda mais completa na junção com o público, que ingressou nessa comunhão desde as primeiras músicas da banda curitibana e se tornou ainda mais intensa quando Di Melo lançou o seu primeiro “Kilariô”.
Complementarmente, outra face do amor foi demonstrada por Liniker e os Caramelows, que no palco conseguiram trazer, simultaneamente, força e delicadeza, lirismo e energia, resistência e swing.
Essas características embora pareçam opostas se tornam um conjunto único e inseparável no show do grupo de Araraquara, que promoveu o empoderamento tanto de maneira direta como em “BoxÔke”, quanto em canções mais leves que colocam a liberdade de gênero no cotidiano como em “Louise do Brésil”.
Dessa maneira, para além da sua imagem, Liniker mostra que a potência da sua voz fala mais alto que as questões de gênero, mas ela pode muito bem ser usada para amplificá-las.
No final do show, Liniker encerrou a sua participação deixando uma mensagem já bastante cumprida pelo público da Psicodália: “Se amem!”.