Junte 8 Mile – Rua das ilusões, Get rich or die tryin e toda a filmografia que trata dos conflitos entre Tupac Shakur e Notorious B.I.G. e está pronta a receita do livro Gangsta Rap (Companhia das Letras, 2006), traduzido no Brasil por Augusto Pacheco Calil.
Escrito pelo poeta, músico e dramaturgo inglês Benjamin Zephaniah, o romance tem um enredo bastante previsível e representa aquilo que seria o sonho de muitos jovens que ingressam no mundo do rap: de uma hora para outra conquistar ascensão, fama e dinheiro.
Claro, como manda o figurino, junto desses aspectos surgem também os pontos negativos, como a inveja, a violência e a disputa pelo poder. Sendo assim, só a abordagem sobre as drogas faltou para que a obra literária se tornasse o mais perfeito clichê sobre o universo do rap, aspecto que, ainda que previsível, poderia tornar mais interessante o conto de fadas.
Assim, os conflitos iniciais que acometem Ray, Tyrone e Prem, jovens na faixa dos 15 anos, são aqueles que envolvem instituições como a família, ambiente no qual a obra se inicia por meio da imersão em um conflito, e a escola, da qual os jovens se sentem orgulhosos por terem sido expulsos.
Mas é justamente o corpo docente o responsável por abraçar o sonho dos garotos até então desencaixados e integrá-los novamente à sociedade. Assim, o diretor da escola, Sr. Lang, apresenta um projeto pedagógico no qual desenvolverão uma iniciativa voltada à música.
É a partir dessa política inclusiva que os jovens passam a se dedicar como nunca antes na história daquele país (a Inglaterra) e rapidamente alcançam o sucesso com a ajuda de Marga Man, um vendedor de discos que assume uma figura paterna e passa a ser o empresário do grupo, e o produtor musical Bunny.
Dessa disputa entre os personagens, que evoluem de maneira plana, surgem os principais conflitos da obra.
A partir daí o Positive Negatives, nome do grupo criado por eles, ascende rapidamente e logo está nas rádios, TVs e premiações musicais. Mas junto disso nasceu também a rivalidade criada junto ao Western Alliance, grupo de rap antagonista das novas estrelas.
Dessa disputa entre os personagens, que evoluem de maneira plana, surgem os principais conflitos da obra, que por meio do seu narrador onisciente emprega uma linguagem rápida, simples e fluida, com poucas gírias até mesmo quando são os garotos que têm a palavra.
Nesse padrão de linguagem, algumas pequenas quebras são apresentadas por meio de capítulos compostos por notícias de jornais locais e algumas poucas letras das músicas do grupo, o que poderia ter sido mais e melhor explorado. Ao invés disso, a descrição das canções na maioria das vezes recorre a adjetivos.
A superficialidade e previsibilidade da obra está presente até mesmo na figura do ídolo de Ray, Tupac Shakur, que tem história semelhante à do protagonista e que em dado momento tem seu heroísmo questionado pela imprensa, vista de maneira negativa pelos jovens.
Esse é um dos momentos em que o livro promove uma reflexão sobre os valores do universo hip-hop, ainda povoado por quem tem um raciocínio infantojuvenil. Para esses, a obra é recomendada.
GANGSTA RAP | Benjamin Zephaniah
Editora: Companhia das Letras;
Tradução: Augusto Pacheco Calil;
Tamanho: 256 páginas;
Lançamento: Janeiro, 2006.
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