A recente estreia de Fragmentado (2017) nos cinemas veio acompanhada de uma narrativa sobre um glorioso retorno de M. Night Shyamalan ao horror, gênero que o consagrou no início da carreira. A tese, que serve bem à divulgação do filme, tem sido construída desde o modesto A Visita (2015). Trata-se de uma referência à expectativa por um novo O Sexto Sentido (1999), precoce consagração do cineasta como mestre do suspense e das reviravoltas inesperadas.
Essa busca do público pelo eterno sucesso do diretor desconsidera certos elementos de sua filmografia. Shyamalan é um dos poucos nomes de Hollywood que pode ser considerado como um autor. Além de manter um controle sobre várias etapas da produção, ele também dirige os próprios roteiros, o que permite que mantenha uma continuidade nos temas que leva para a tela.
Desde Praying with Anger (1992), realizado ainda na faculdade, o cineasta parece interessado em discutir a jornada do homem em busca de uma parte perdida de si. Essa procura, muitas vezes, é por um lado espiritual, como em Olhos Abertos (1998), Sinais (2002) e O Último Mestre do Ar (2010).
Na maior parte de suas obras, Shyamalan mantém o desfecho de suas narrativas aberto. O fim de um longa-metragem é sempre o começo de uma nova jornada dos personagens.
A busca pode aparecer de forma simples na trama. Em A Vila (2004) e Fim dos Tempos (2008), os personagens querem um refúgio seguro para as famílias da violência social. Também pode representar um vínculo emocional com o legado dos pais, como em Depois da Terra (2013), ou dos avós distantes, no caso de A Visita.
Em retrospectiva, há poucas reviravoltas e horror no cinema de Shyamalan. Sobram, porém, reflexões sobre encontrar o nosso papel no mundo. Corpo Fechado (2000) e A Dama na Água (2006) são os títulos que melhor catalisam essa preocupação do diretor. Em um deles, Bruce Willis sente-se deslocado a vida toda por não assumir sua vocação de herói. No outro, moradores de um condomínio assumem diferentes funções dentro de um conto de fadas para proteger uma sereia que apareceu na piscina.
Na maior parte de suas obras, o cineasta mantém o desfecho de suas narrativas aberto. O fim de um longa-metragem é sempre o começo de uma nova jornada dos personagens. Fragmentado, por exemplo, é uma história de origem. As cenas finais são um chamado para uma sequência. A busca das múltiplas personalidades do protagonista abre novas portas e não oferece todas as respostas. É uma continuidade – e não um retorno – dos temas com os quais Shyamalan sempre trabalhou.