Dan O’Bannon começou a ler contos de Howard Phillips Lovecraft quando tinha cerca de 12 anos, no fim dos anos 50. A narrativa do escritor o fascinou. As histórias eram cheias de uma loucura incompreensível, que colocavam os seres humanos como seres impotentes diante de ameaças cósmicas e impossíveis.
Quando foi estudar cinema nos anos 70 na Universidade do Sul da Califórnia, O’Bannon conheceu outro fã da literatura de Lovecraft: o aspirante a cineasta John Carpenter. Rapidamente, os dois se aproximaram e decidiram fazer um filme juntos. Eram inspirados por outro estudante da mesma instituição, George Lucas, que havia arrancado elogios de professores e colegas pelo curta metragem que viria a ser THX 1138 (1971).
Na onda do sucesso de Tubarão (1975), os produtores de Alien – O Oitavo Passageiro (1979) acreditavam que poderiam fazer um filme B com grande orçamento.
O resultado da parceria foi o roteiro de Dark Star (1974). O’Bannon era o produtor e o responsável pelos efeitos visuais. Carpenter assinava a direção e a trilha sonora. A trama acompanha uma pequena equipe de exploração espacial que explode planetas instáveis para colonizações futuras de galáxias. O tom da obra era bastante satírico, quase como uma comédia de erros. O aspecto fantástico, porém, foi levado bem a sério.
No livro Shock Value: How a Few Eccentric Outsiders Gave us Nightmares, Conquered Hollywood and Invented Mordern Horror, o jornalista Jason Zinoman afirma que a dupla queria uma produção que fosse uma defesa da fantasia, marginalizada pela Hollywood pré-Star Wars. Dark Star, hoje, pode parecer datado, mas algumas ideias da obra se tornaram influentes. Especialmente no aspecto visual, que tinha efeitos bem eficientes para o período.
O’Bannon usa miniaturas e sobreposições de imagens, enquanto Carpenter improvisa com os corredores da universidade para criar o interior da espaçonave que leva o nome do filme. Em uma das cenas, um alienígena, que serve de bicho de estimação da tripulação, escapa. Para evitar passar vergonha com uma criatura pouco realista, os dois assumiram o absurdo do monstro e usaram uma bola de praia com pés reptilianos. O resultado é estranho e evoca o desconhecido incompreensível da obra de Lovecraft.
A aparência do filme impressionou o cineasta chileno Alejandro Jodorowsky, que tentava tirar do papel uma ambiciosa adaptação do livro Duna, de Frank Herbert. O’Bannon foi convocado para trabalhar nos efeitos especiais da cara produção, que teria no elenco nomes como Salvador Dali, Orson Welles e Mick Jagger. Nos bastidores, o design da produção tinha os talentos do artista francês Moebius, do desenhista norte-americano Ron Cobb, do ilustrador britânico Chris Foss e do surrealista H. R. Giger.
O documentário Duna de Jodorowsky (2013) mostra como o projeto tinha toda a pré-produção fechada, com story-boards e artes conceituais incríveis, mas foi cancelado por ser considerado arriscado demais pelos estúdios. O cineasta chileno queria que a produção fosse uma experiência espiritual e artística e ligava pouco se a duração final ultrapassasse cinco horas.
Quando Duna se mostrou inviável, O’Bannon passou a trabalhar no roteiro de uma história que era descrita por ele como um Dark Star mais sombrio. Sem o tom satírico, entra o horror. O extraterrestre agora seria uma ameaçadora criatura que devora os tripulantes de uma nave espacial. Alien – O Oitavo Passageiro (1979) quase foi vendido como uma película de baixo orçamento para a American International Pictures, de Roger Corman, mas acabou nas mãos do trio Gordon Carroll, David Giler e Walter Hill.
Na onda do sucesso de Tubarão (1975), os produtores acreditavam que poderiam fazer um filme B com grande orçamento. A FOX comprou a ideia e colocou o novato Ridley Scott para dirigir. Recomendado por O’Bannon, o cineasta recrutou parte da antiga equipe de Duna para o departamento visual de Alien. Foss, Cobb e Moebius fizeram as artes conceituais. Giger criou o monstro e seu habitat.
A estranheza dos delírios do artista suíço casou perfeitamente com a trama lovecraftiniana de um alienígena que, ao despertar de um período de incubação no peito de um astronauta, se perde em uma espaçonave gigante. Não parece ser por acaso que, ao retomar a história em Prometheus (2012), Scott tenha voltado a se inspirar nas artes conceituais de Jodorowsky e nos temas cósmicos e horripilantes da criação de Lovecraft.