Dizem que o horror nasceu de uma aposta entre amigos em junho de 1816. Foi o período em que um grupo de viajantes ingleses passou as férias em um casebre às margens do Lago Genebra, na Suíça. Eram semanas chuvosas e, por isso, Percy e Mary Shelley, George Lord Byron e John Poliodori passavam os dias e as noites enclausurados em uma sala do casebre discutindo avanços científicos e lendo contos de assombro da literatura alemã.
Em uma dessas noites, depois de ler uma assustadora história da coletânea Fantasmagoria – descoberta por Byron em algum beco de Genebra –, o poeta inglês propôs um desafio: cada um dos presentes deveria escrever uma história de fantasma. Percy foi o primeiro, que tratou de assassinatos urbanos. Lorde Byron apresentou um conto de fantasmas semelhante às da coletânea alemã. O médico Poliodori escreveu uma narrativa sobre vampiros. Mary Shelley, por sua vez, redigiu o romance Frankenstein, ou o Prometeu Moderno.
Assim nascia o horror, diria uma historiografia mais romântica. O desafio proposto aos quatro viajantes é apontado por Stephen King, no ensaio Dança Macabra, como um momento simbólico de consolidação do gênero, que dava seus primeiros passos desde o lançamento de O castelo de Otranto (1756), de Horace Walpole. A importância atribuída à reunião não se deve apenas à produção da jovem Shelley, que contava com 19 anos na época, mas também ao livro de Poliodori. Vampiro é visto como um dos principais elos entre Bram Stoker e Drácula.
O horror atravessa mídias, formatos e representações. O cinema apenas popularizou o gênero, mas suas narrativas e imagens estão espalhadas pela nossa cultura, sempre à espera de novos públicos.
Nos últimos duzentos anos, autores como Edgar Allan Poe, Oscar Wilde, Robert Louis Stevenson, H.G. Wells, H. P. Lovecraft, Ira Levin e Peter Straub – para citar apenas alguns – escreveram contos, romances e poesias que buscavam uma única reação em seus leitores: horrorizar. Posteriormente, essas narrativas ganharam os palcos, as histórias em quadrinhos, as músicas, os videogames, a televisão e, é claro, o cinema.
O interesse do público pelo gênero, por sua vez, cresceu com a mesma intensidade que a produção dessas adaptações. Em 1927, estreava na Broadway a adaptação de Drácula para o teatro, escrita por John L. Balderston e Hamilton Deane. “Apesar das críticas rancorosas desaprovarem (…) ficou em cartaz por quase um ano em Nova York e dois anos em tour”, escreveu o historiador Carlos Clarens.
Na década de 1950, uma editora norte-americana iniciou uma tradição, até então rara nas histórias em quadrinhos. Com títulos como Crypt of Terror e Tales from the Crypt, a E.C. Comics fez tanto sucesso que gerou um bando de imitadores e a ira de conservadores. Até o Brasil respondeu às edições da E.C. com o lançamento do gibi Terror Negro (1951).
No final dos anos sessenta, a banda Alice Cooper, liderada pelo roqueiro Vincent Damon Furnier (que mais tarde adotaria o nome do conjunto para si), se apresentava em shows recorrendo a “cadeiras elétricas, guilhotinas, cabeças decapitadas artificiais e sangue falso”, como afirma o autor Gonçalo Júnior. A prática claramente remetia a uma ambientação típica dos filmes de horror.
Em meados da década de 1990, com a popularidade de videogames com tramas cada vez mais sofisticada eram lançados jogos como Alone in the Dark, House of the Dead e Resident Evil. Nesses títulos, os jogadores controlavam personagens que lutavam para sobreviver em meio a zumbis, lobisomens e outras criaturas sanguinárias.
O horror atravessa mídias, formatos e representações. O cinema apenas popularizou o gênero, mas suas narrativas e imagens estão espalhadas pela nossa cultura, sempre à espera de novos públicos.