O produtor, diretor e roteirista Charles Band é uma espécie de Roger Corman do mercado home vídeo. Midas do cinema independente, esses dois personagens norte-americanos se caracterizam pela preferência por pequenas produções, por mais que tenham plena capacidade para trabalhar com grandes orçamentos.
Corman, por exemplo, assinou a produção de cerca de 400 filmes e dirigiu outros 50, dos quais se orgulha muito (como mostrou em sua masterclass durante a Madrugada Sangrenta de 2014). Band não parece ser diferente, já que por meio da sua produtora Full Moon Pictures lançou aproximadamente 260 obras, das quais assinou a direção de umas 40.
Esses títulos geralmente colocam monstros, brinquedos assassinos e seres demoníacos como antagonistas. A maioria ainda usando efeitos visuais práticos, em uma clara recusa à computação gráfica. A estratégia deixa esses títulos com um ar mais artesanal.
Diferentemente do que ocorre com os lançamentos da Asylum, produtora especializada em “roubar” ideias grandes produções para lançar versões mais baratas, a Full Moon Pictures parece apostar na originalidade de seus produtos. É o caso de Brinquedos Diabólicos (Demonic Toys, 1992), dirigido por Peter Manoogian.
O filme acompanha um grupo de pessoas perseguidas por bonecos possuídos pelo demônio de uma criança. A protagonista, vivida por Tracy Scoggins, é uma policial que participa com o namorado de uma emboscada que não dá certo. Antes de o amado morrer assassinado por um dos bandidos, a moça revela que está grávida. A criança, que ainda não nasceu, se torna o alvo do tinhoso juvenil, que prende todos os envolvidos num galpão que guarda brinquedos.
Pelos efeitos visuais precários, quase risíveis, as produções da Full Moon Pictures exigem maior descrença do público. O que não as torna menos divertidas.
A trama não possui nenhum traço de genialidade e diverte pelo humor. Band, que escreveu o roteiro ao lado de David Goyer (que também assinou os textos da trilogia Batman de Christopher Nolan), preza pela simplicidade. Às vezes, até demais. Em várias cenas, os movimentos dos brinquedos endemoniados parecem falsos, exigindo uma descrença ainda maior do público para se envolver na trama.
O caráter de exploração fica evidente na premissa da obra, chupada de O Mestre dos Brinquedos (1989), também produzida por Band e que, por sua vez, tinha forte influência de Brinquedo Assassino (1988). Em vários momentos é possível ver como a obra apela para o exploitation em seus fetiches, que envolvem nudez, ursos gigantes, frases de efeito (como os bordões da boneca Oopsy Daisy) e palhaços carnívoros.
![Criaturas do filme "Subspecies - Geração Vamp" (1991).](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2015/03/subspecies-1024x576.jpg)
Outro filme que mostra um pouco da originalidade da Full Moon é Subspecies – A Geração Vamp (1991). Rodado inteiramente na Romênia, a produção tem como vilão o vampiro Radu Vladislas (Anders Hove), um personagem lembra o Nosferatu do filme de Friedrich Murnau, com suas longas unhas e pele pálida.
Depois de matar o pai e se alimentar do sangue de uma pedra mística, Vladislas decide perseguir três americanas que viajaram para a Transilvânia para estudar hábitos locais. Em sua companhia estão pequenos demônios criados em stop motion, que, de longe, são a melhor coisa do filme.
Dirigido por Ted Nicolaou, a obra tem tudo o que manda o figurino: vampiros, mocinhas seminuas e uma atmosfera particular, graças aos cenários romenos. Por incrível que pareça, o sucesso de Subspecies garantiu ao diretor e ao produtor outros três títulos protagonizados por Hove. Parece muito? Pois saiba que há também um spin-off da série, chamado Vampire Journals, lançado em 1997.