Em certo momento de O Caçador de Troll (2010), Hans (Otto Jespersen) pergunta à equipe de documentaristas se algum deles é cristão. Caso sejam, não podem acompanhá-lo na sua jornada noturna de caça aos monstros, pois os trolls sentem o cheiro de pessoas que acreditam em Jesus Cristo. O comentário gera olhares irônicos entre os personagens.
A história soa absurda ao grupo de estudantes que comanda a câmera no longa-metragem dirigido por André Øvredal por fazer referência a um popular livro de contos de fadas norueguês. O detalhe acaba se tornando bem importante depois, em um momento aterrador e bastante ridículo da obra.
O Caçador de Troll ocupa um lugar único dentro da filmografia mundial de monstros gigantes. É um título que se constrói a partir de uma piada regional e com elenco repleto de comediantes escandinavos. A direção, no entanto, o deixa com um aspecto sombrio, contemplador e bem violento. Tudo isso em uma narrativa estruturada como um found footage.
Uma equipe de filmagem formada por estudantes universitários decide investigar o trabalho de um misterioso caçador, associado à morte de ursos no interior da Noruega. Hans, o estranho sujeito, está sempre sozinho em sua caminhonete. Não demora até que o grupo passe a acompanhá-lo e descubra que ele, na verdade, trabalha com a caça de trolls.
Pautados por visuais que já habitavam o imaginário do público, os monstros soam anacrônicos em computação gráfica, como criaturas abandonadas no tempo.
Da premissa absurda, Øvredal tira um filme repleto de cenários visualmente arrebatadores. Para uma narrativa de filmagens encontradas, O Caçador de Troll apresenta ao público imagens realmente impressionantes. Não é por menos, pois muitas das cenas mais importantes da fita foram inspiradas em gravuras e pinturas de artistas noruegueses como Theodor Kittelsen e John Bauer.
Pautados por visuais que já habitavam o imaginário do público, os monstros soam anacrônicos em computação gráfica, como criaturas abandonadas no tempo. Esquecidas à própria sorte, podem ser bastante agressivas se tiverem seu espaço violado. Curiosamente, a ideia de um passado adormecido de horror também é tema de outra obra de monstros gigantes da Noruega, a aventura familiar Ragnarok (2013).
Com a mistura de comédia, folclore e uma linguagem mais próxima do público americano, o longa-metragem se tornou um estrondoso sucesso internacional. Abriu caminho para que Øvredal iniciasse uma carreira como diretor de Hollywood, assinando a direção de obras como A Autópsia (2016) e Histórias Assustadoras para Contar no Escuro (2019). Durante anos, produtores tentaram refilmar a narrativa nos Estados Unidos. O caçador mal-humorado seria vivido por Harrison Ford. O projeto nunca saiu do papel.