No fim da década de 1970, os estúdios Walt Disney sofriam com uma crescente evasão de público. As animações, que sempre foram o carro-chefe da marca, há anos não empolgavam. A última incursão no gênero, com Bernardo e Bianca (1977), se tornara um fracasso nas bilheterias. Os filmes para a família também capengavam. Era preciso uma nova estratégia para fugir da crise.
A saída veio com uma agressiva mudança de rumo nas produções do estúdio, que resultou em títulos sombrios e voltados para um público mais adulto. Mistério no Bosque (The Watcher in the Woods, 1980) talvez seja o exemplar mais sintomático desse novo período da Disney. Baseada no livro homônimo de Florence Engel Randall e dirigida por John Hough, a obra é uma história de assombração clássica, cheia de elementos góticos e praticamente sem humor.
Na trama, bastante batida, uma família se muda para uma casa de campo ao lado de um bosque com fama de mal assombrado. Lynn-Holly Johnson e Kyle Richards vivem duas jovens que são perseguidas por uma entidade sobrenatural, que revela um segredo envolvendo os antigos moradores da região.
Quando foi chamado para comandar a produção, Hough era conhecido pela capacidade em trabalhar com diferentes gêneros. Ao mesmo tempo em que havia colaborado com a Disney na direção da versão original de A Montanha Enfeitiçada (1975), ele também assinava o horror As Filhas de Drácula (1971), para a Hammer Films.
Antes de começar a rodar o projeto, Mistério no Bosque circulava pelo estúdio como uma boa aposta para se reposicionar no mercado. Reza a lenda que o produtor do filme, Tom Leetch, aprovou o projeto com os executivos ao apresentá-lo como uma versão Disney de O Exorcista (1973). O nome de Bette Davis, então uma atriz bastante associada ao horror, como uma das coadjuvantes da trama parecia em sintonia com o conceito – embora a veterana tenha sido subaproveitada na trama.
Durante as filmagens, Hough e Leetch se desentenderam pelo excesso de interferência do produtor. O resultado dos impasses apareceram nas primeiras reações do público. Nas exibições testes, as pessoas reclamavam da resolução da trama, que confundia com a aparição de dimensões temporais e sequestros de almas. A estreia foi adiada e um novo diretor foi chamado para resolver o desfecho, que acabou ficando didático, mas bem sem graça.
“De acordo com registros dos bastidores da produção, Mistério no Bosque chegou a ser vendido como uma versão de O Exorcista (1973) da Disney.”
Mistério no Bosque foi um fiasco de crítica e de público. Mesmo assim, parece haver uma base de fãs que ainda anseia pelo lançamento do corte original de Hough, algo que parece fora dos planos da Disney. Aos olhos do século XXI, o filme apresenta várias ideias interessantes, como a economia de efeitos visuais e sustos fáceis e o uso da câmera como a entidade observadora que ronda a floresta.
No Brasil, a obra também é conhecida como Olhos na Floresta, título do lançamento em VHS na década de 1980. A edição em DVD permanece inédita, como praticamente toda a filmografia desse período sombrio dos estúdios Disney. Se quiser ver, precisa recorrer aos gringos, piratear ou dar sorte de encontrar um vídeo cassete que funcione.