William Castle estava satisfeito com o resultado de 13 Fantasmas (1960). Nos bastidores, a produção tinha sido difícil, especialmente nos ajustes do artifício do Illusion-O! (que permitia que o público enxergasse ou não os fantasmas na tela). A aceitação na bilheteria não era comparável ao sucesso de Força Diabólica (1959), mas foi o suficiente para se tornar um alívio para o diretor.
Na saída de uma das exibições do longa-metragem, porém, o cineasta teve uma desagradável surpresa. No cinema do outro lado da rua, filas e filas se formavam para ver Psicose (1960), filme-fenômeno de Alfred Hitchcock. Depois de anos prestigiado pela crítica, o nome por trás de Um Corpo Que Cai (1958) retomava com força seu posto de mestre do suspense entre o público.
Stephen Rabello, que escreveu o livro Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose, revela que o diretor britânico estava incomodado com produções de baixo orçamento que passaram a invadir seu espaço de trabalho na década de 1950. Títulos como As Diabólicas (1955) e Macabre (1958) mostraram que o investimento em tramas baratas com reviravoltas agradavam ao público.
Os artifícios publicitários são um indício de que a qualidade de Trama Diabólica não era a mesma de Psicose. Na verdade, a suposta rivalidade entre os dois diretores acabou se tornando uma jogada de marketing de William Castle, pois havia um abismo entre os talentos dos dois cineastas.
O marketing pesado em cima do final surpresa também foi incorporado à produção de Psicose. Nos cinemas, as pessoas eram avisadas que não deveriam entrar atrasadas nem revelar o que acontece na história para não estragar a experiência. Ao seu modo, Hitchcock estava criando os próprios gimmicks.
Ao perceber que seus artifícios estavam sendo apropriados pelo rival britânico, Castle decidiu contra atacar. Chamou o parceiro Robb White para escrever uma história que simulasse a de Psicose. O resultado foi Trama Diabólica (1961), considerados por muitos um tipo de plágio do longa de Hitchcock.
O enredo apresenta um crime inexplicável e brutal. A assassina é uma transexual com traumas da infância. Como a mãe de Norman Bates (Anthony Perkins), um dos personagens é apenas uma dissimulação dos delírios da vilã. Depois de cometer um crime, ela dirige ao som de julgamentos de um rádio, como ocorre na cena em que Marion Crane (Janet Leigh) ouve vozes que a sentenciam por ter roubado o dinheiro de seu chefe.
Para impulsionar as vendas de ingressos, Castle resolveu criar uma pausa para o susto (fright break) como gimmick. Antes de revelar o segredo da trama, ele dava uma janela de 40 segundos para que o público que estivesse com muito medo fosse embora do cinema e resgatasse o dinheiro na bilheteria. A estratégia não deu lá muito certo. Quando percebeu que as pessoas saíam da sala no momento esperado, ele criou um canto da vergonha, onde os interessados em reaver o valor da entrada precisariam esperar depois que acabasse a sessão.
Os artifícios publicitários são um indício de que a qualidade de Trama Diabólica não era a mesma de Psicose. Na verdade, a suposta rivalidade entre os dois diretores acabou se tornando uma jogada de marketing do diretor de 13 Fantasmas, pois havia um evidente abismo entre os talentos dos dois cineastas. Nos anos seguintes, a disputa de ambos pelo título de mestre do suspense viraria tema de especulações na imprensa e em peças promocionais dos filmes.
Castle passou os anos seguintes à sombra de Hitchcock. Emprestaria outras cenas de Psicose em filmes como A Máscara do Horror (1961) e Eu Vi que Foi Você (1965). Chegou a contratar Robert Bloch, autor do romance no qual o filme do cineasta britânico é inspirado, para escrever o roteiro de Quando Descem as Sombras (1964) e Almas Mortas (1964). No fim, nunca alcançou o mesmo prestígio do rival. Sua imagem estava presa a do showman que queria entreter o público com truques baratos de marketing.