Outro dia fui sujeito ativo do seguinte diálogo, lá pelas 11h da manhã de um sábado, quando a fome já rondava.
– Vamos almoçar em casa ou em algum restaurante?
– Em casa. É muito mais simples.
O mais “simples” exigia lavar alface, cozinhar legumes, descongelar feijão, fazer um arroz, por uma carne para assar, por à mesa, preparar um suco de limão. Sem contar que tudo isso tem consequências: uma pia cheia de louça suja, batalha a ser enfrentada por aquele que perdesse no jogo do palitinho.
Pois bem. Quando foi que isso passou a ser mais simples que caminhar duas quadras até o estabelecimento mais próximo?
“Quando se tem filhos, pois crianças choram, gritam e jogam comida no chão”, alguém poderia dizer. Infelizmente, nem podemos entrar nesta seara de rasos argumentos.
Porque antes disso, os restaurantes deveriam poder acolher um cliente com crianças. Nem exige-se o famigerado “espaço kids”, com mil frufrus e coisas coloridas até demais.
Mas em muitos lugares, nem uma cadeirinha específica está à disposição. Quando está, às vezes é velha, está suja ou faltando um pedaço para o pleno funcionamento. Sinal, talvez, de que seja pouco usada… porque pouca gente vai com crianças em restaurantes… porque não há estrutura… porque pouca gente vai… enfim. É um círculo vicioso que parece sem saída.
A alimentação é um dos eixos centrais da nossa cultura porque, apesar de atividade vital, rotineira e que atualmente inclui a ida a restaurantes, tem a ver com afeto, sociedade, costumes e pertencimento. Junte na equação a inclusão – ou exclusão – das crianças nesse processo.
O cardápio também não ajuda. Crianças – e adultos também, é claro – precisam comer comida saudável, salada sem tempero, pratos sem tanto sal. Já vi acontecer e, infelizmente, repito a ação: vou almoçar em algum lugar, mas preciso levar de casa aquilo que minha filha vai comer porque o que está disponível não é adequado para ela. E olha que não frequento lugares que servem comidas exóticas nem nada disso.
Seria pedir demais um banheiro limpo com espaço para trocador de fralda? Pensando bem, parece ser um investimento pequeno perto da quantidade de clientes em potencial.
Tem muita escada e não dá para entrar com o carrinho? Também não será possível que um cadeirante ou qualquer pessoa com limitação motora entre, por exemplo.
É necessário salientar que existem estabelecimentos que oferecem a estrutura adequada, mas infelizmente é a minoria. Enquanto isso, resta a alguns pais repetir os lugares de sempre, shoppings ou aqueles que são especificamente voltados para atender crianças. A limitação do leque de opções é desestimulante.
Vida em sociedade
A alimentação é um dos eixos centrais da nossa cultura porque, apesar de atividade vital, rotineira e que atualmente inclui a ida a restaurantes, tem a ver com afeto, sociedade, costumes e pertencimento. Junte na equação a inclusão – ou exclusão – das crianças nesse processo.
Por isso, não canso de dizer que é preciso exigir lugares onde pais e crianças se sintam confortáveis e tenham suas necessidades atendidas. É preciso empatia.
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