Como quase todo mundo que eu conheço, entre 2018 e 2019, eu fui levada pelo tsunami dos podcasts e passei a incluir esse produto midiático no meu dia-a-dia, no trânsito, nas viagens da família, na hora da faxina, lavando a louça, tomando banho…
Acontece que tenho duas crianças em casa. Dois e quatro anos. Juro que tentei, mas elas não aguentavam o falatório do Xadrez Verbal ou do Viracasacas (perdão, Carapanã S2) e, infelizmente, não compreendem ainda o humor do Imagina Juntas. Também ainda não posso colocar o fone de ouvido e ignorar os pedidos das crianças, infelizmente (ou, felizmente, ainda mantenho essa atitude sensata).
Até o final do ano passado, não tinha passado pela minha cabeça que haveria um nicho já ocupado de podcasts para crianças. Foi em um fim de semana, crianças entediadas em casa, preguiça de sair para levar passear, aquele combo. Tentava ouvir algum dos meus programas xodó… mas uma queria colo, outra queria atenção, logo depois era um lanche ou brincar junto. Eu tinha que parar e voltar nos episódios, pois não conseguia acompanhar o que estava sendo dito. Coloquei “criança” na busca do Spotify, minha intenção era colocar músicas infantis mas cliquei na aba dos podcasts e, que grata surpresa.
De acordo com a Associação Brasileira de Podcasters (sim, isso existe), são mais de 3 mil programas disponíveis, que tratam de uma ampla gama de assuntos. Abençoados sejam os muito mais rápidos que eu, que já visualizaram a necessidade de produção deste tipo de programa para crianças.
De acordo com a Associação Brasileira de Podcasters (sim, isso existe), são mais de 3 mil programas disponíveis, que tratam de uma ampla gama de assuntos.
Aqui, até agora, testamos três programas diferentes. O Coisa de Criança é um braço do já reconhecido site sobre paternidade ativa Paizinho, Vírgula! e trata de assuntos curiosos. A ideia é responder aquelas perguntas das crianças do tipo “por que o céu é azul?” ou “de onde vem as ondas?”. Com duração de 5 a 10 minutos, o programa dá uma explicação científica para os fenômenos, mas que as crianças consigam entender. O bacana é que as crianças, por menores que sejam e por mais que demorem a entender exatamente a explicação, já vão se familiarizando com o formato e também com as respostas (não há nada pior que subestimar a inteligência de uma criança). Minha filha de quatro anos conseguiu acompanhar o raciocínio!
O Coisa de Criança teve 10 episódios e os mesmos produtores iniciaram outro programa no mesmo formato. No Conta pra Mim, o apresentador e uma contadora de histórias se revezam para ler as histórias de livros infantis, comentando as narrativas. Aqui, esses episódios, curtos também, fazem sucesso no trânsito e é o que mais chamou atenção das minhas pequenas ouvintes.
Também conheci o E se… Podcast, produzido por um pai e seus dois filhos (volta e meia rolam uns convidados, enfim) e neste, que é um diálogo entre adulto e crianças, aí sim nossa audiência infantil foi ao delírio. Não tanto pelo tema, confesso. Mas por se reconhecerem ao ouvirem outra criança falando (e isso me fez pensar sobre publicidade infantil, mas deixaremos este assunto para outra semana). No E se…, os apresentadores tratam de questões cotidianas e curiosas, deixando a imaginação correr solta. “E se… não existissem animais?”, “e se… não tivéssemos nome?”, “e se… não parasse de chover?” são alguns dos temas tratados.
Este podcast também originou outro, da mesma família de produtores. O E é por isso apresenta explicações fundamentadas para os questionamentos infantis: “e é por isso que tomamos banho”, por exemplo. Esse deve interessar às crianças maiores e os episódios que ouvi dão sugestões de experiências para fazer em casa, pelas quais os pequenos podem comprovar o conteúdo explicado no áudio.
Ainda tenho uma lista imensa de podcasts para crianças a descobrir. Vale como alternativa para os dias chuvosos ou quando urge tirar as crianças da frente da tevê. E me trouxe uma doce recordação da infância, quando o divertimento era ouvir aqueles disquinhos de vinil com histórias de crianças.