Logo na estreia da coluna “Vale um Like”, em maio de 2017, destaquei um dos mais aguardados projetos do cineasta Aly Muritiba para este ano: o longa-metragem Ferrugem, que estreou mundialmente no Festival de Sundance, nos EUA, no dia 20 de janeiro. A produção faz parte da mostra competitiva do evento.
O filme, com locações em Curitiba, no litoral do Paraná e em São Paulo, traz à berlinda a relação dos adolescentes com a internet a partir do vazamento de um vídeo íntimo no WhatsApp. À frente do elenco jovem estão os atores Giovanni de Lorenzi, que interpreta o tímido Ulisses na novela Deus Salve o Rei, da Rede Globo, e Tiffany Dopke.
O cineasta Fernando Grostein Andrade, em entrevista com Aly Muritiba no Festival de Sundance, publicada na Folha de São Paulo, destacou a forma como a produção absorveu a pulsação da internet. “Desde sempre a gente conversou e achou que o filme tinha que ter um ritmo ligeiro e que tivesse a ver com o que é o mundo virtual. Eles conseguem pensar e dar atenção a vários assuntos ao mesmo tempo. A concentração deles é diferente da minha, é mais dispersa, mas, ao mesmo tempo, abarca um número a mais de informações. Então essa história de colocar no filme memes, aplicativos, já vinha de uma pesquisa que eu e a roteirista fizemos para dar conta desse universo”, fala Aly.
‘Nós, que crescemos antes da popularização da internet e do uso desenfreado das redes sociais, falávamos muito sobre o quanto as fronteiras entre a vida privada e o perfil público estão misturadas hoje em dia, com todas as implicações positivas e negativas que isto traz.’
Experiências
O roteiro, assinado pelo próprio Aly em parceria com Jessica Candal Sato, reúne inúmeras experiências acumuladas pela dupla ao longo de suas carreiras. “Tanto eu quanto a Jessica fomos professores de adolescentes durante um tempo. Nós, que crescemos antes da popularização da internet e do uso desenfreado das redes sociais, falávamos muito sobre o quanto as fronteiras entre a vida privada e o perfil público estão misturadas hoje em dia, com todas as implicações positivas e negativas que isto traz. Foi mais ou menos daí que veio a ideia de fazer um filme que abordasse este tema”, fala o diretor.
Em entrevista ao jornalista Ricardo Daehn, do Correio Braziliense, Aly Muritiba falou sobre os desafios em torno de discutir assuntos densos, como suicídio e bullying, com o público adolescente. “Ao me preparar para realizar este filme, eu tomei o cuidado de escutar aqueles para quem o mundo virtual nunca esteve dissociado do real, ou seja, jovens que nasceram no mundo pós-internet. E ao fazê-lo, tentei não julgar. Acredito muito na importância da escuta, e ao exercer esta faculdade junto aos jovens com quem conversei no processo de escrita do roteiro de Ferrugem, me dei conta de que o mundo virtual, notadamente as redes sociais, nada mais são que o reflexo maximizado de uma necessidade muito primal: a necessidade de estar junto, de ser aceito no grupo, de se expressar”, analisa.
No que diz respeito ao cinema brasileiro, Aly acredita que mais iniciativas como Ferrugem podem colaborar com o crescimento do mercado audiovisual no país. “Investir em filmes voltados para o público jovem significa investir em formação de público, ou seja, formar futuros consumidores de cinema nacional”, avalia. O longa, da produtora paranaense Grafo Audiovisual com coprodução da Globo Filmes, deve estrear nos cinemas brasileiros em setembro.