Em tempos de alerta e prevenção ao coronavírus, vale a pena aproveitar o momento necessário de isolamento social para rever e também refletir a partir de importantes obras que retratam questões urgentes à realidade brasileira. No 15º aniversário do documentário Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim, esse convite é mais que pertinente.
O filme aborda a realidade do sistema educacional do país sob vários aspectos. Talvez seja um dos retratos mais contundentes do ensino em território brasileiro e também das dores e angústias da adolescência. Percorrendo desde uma escola localizada no interior pernambucano à rotina diária de um conceituado colégio particular de São Paulo, Pro Dia Nascer Feliz provoca um misto de emoções.
O cineasta e documentarista João Jardim, que tem em seu currículo títulos como Janela da Alma, Lixo Extraordinário e a ficção Getúlio, consegue – por meio do olhar de alunos, professores e das próprias famílias – trazer o impacto das desigualdades sociais, da violência e outras questões na formação das crianças e adolescentes.
A narrativa é envolvente, emocionante e angustiante. O preocupante é imaginar que – quase duas décadas após o seu lançamento – Pro Dia Nascer Feliz é ainda atual e provocativo quanto à necessidade de um olhar sensível à nossa educação, que infelizmente segue à margem das prioridades de nossos governantes. Diante do boom tecnológico verificado há pouco mais de 10 anos, é possível prever os novos conflitos e desafios provocados nesses ambientes desde então.
Sala de aula
Fora isso, em sala de aula, a falta de investimentos, de apoio aos educadores e a própria desestruturação familiar transformam o espaço de aprendizado em um campo minado. Qualquer questão mais delicada – trazida para dentro do ambiente escolar – pode ter consequências graves.
O preocupante é imaginar que ‘Pro Dia Nascer Feliz’ é ainda atual e provocativo quanto à necessidade de um olhar sensível à nossa educação, que infelizmente segue à margem das prioridades de nossos governantes.
Um dos relatos mais contundentes do filme diz respeito a um assassinato. Uma aluna narra, de forma natural e sem qualquer sinal de arrependimento, como “acertou as contas” com uma colega. A banalização da violência faz das escolas reflexo do caos da segurança no Brasil e evidencia o abismo socioeconômico.
Os sonhos e a falta de perspectivas também caminham lado a lado na produção. O desejo de aprender faz com que muitos jovens, mesmo diante de inúmeros obstáculos, abracem com força total esse desejo. Em outro aspecto, há aqueles que não valorizam as oportunidades…
Inquietante, Pro Dia Nascer Feliz – cujo título faz alusão a um clássico de Cazuza e Frejat, imortalizado pelo grupo Barão Vermelho – é daqueles filmes obrigatórios. Impossível assistir e não se questionar. É nossa história, o futuro de um país em jogo. Fica a dica…