Na última semana, o Facebook cometeu algum erro em seu algoritmo que fez com que meu perfil e o de muitos amigos aparecessem como se tivéssemos morrido. A situação escancarou de vez o quanto eu tenho medo da morte, ainda que não seja um medo tão natural quanto parece.
Vivo uma eterna contradição, uma contradição quase existencial, como quase tudo na minha vida – a saber, um exagero do começo ao fim. O mundo é um ambiente hostil, muito hostil, quase insalubre, eu diria. Ainda assim, amo imensamente estar vivo e tudo o que passa entre o último ronco da manhã e o primeiro da noite – menos a parte hostil, é bom pontuar.
Amar a vida ocasiona que eu viva em constante tensão, precisando controlar meu imenso medo da morte. Agora, não é o medo de como posso morrer – se com uma facada, um tiro, espancado, em um acidente de avião (estou indo viajar, batam na madeira três vezes), etc. Enfim, a questão aqui é menos (ou nada) a forma. Tenho medo da morte porque amo muito (ou demais) estar vivo e tudo que a vida me proporciona – ainda que num ambiente extremamente hostil, reforço.
A vida é muito boa, ainda que no intervalo entre um gol e um gozo a gente precise conviver com o Trump. O mundo é muito hostil, já falei isso?
Como agnóstico, não sei bem o que esperar do after party, se é que ele existe. Qual o próximo passo depois que apagarem as luzes pela última vez? Vão me trazer de volta? Do zero? E neste instante o medo amplifica, porque, veja bem, eu amo a vida, mas como eu disse, o mundo é hostil. Cresci em uma época sem internet, sem smartphones, sem redes sociais. O ódio sempre existiu, mas ele parecia que vivia escondido, disfarçado. Nós sempre soubemos que ele estava lá (ou ali), mas não havia perpetuação do medo, do vexame, da desgraça, essa que a internet trouxe. Hoje o ódio existe à nossa espreita. E, salvo pelas contas no fim e no começo do mês, eu não queria ser criança novamente. Mas, ainda assim, eu amo muito a vida, sabe?
A vida é muito boa, ainda que no intervalo entre um gol e um gozo a gente precise conviver com Bolsonaros, Trumps e Temers. O mundo é muito hostil, já falei isso? E nessa contradição existencial (e exagerada, eu sei), vivo menos intensamente do que queria (e deveria). Procuro exaustivamente não permitir que o medo me consuma, mas a certeza de que uma hora tudo de bom vai acabar, rapaz, dá uma tristeza.
E a gente se pega numa quinta-feira modorrenta como esta meio abismados com o fato de que, invariavelmente, o juiz vai apitar o fim dos quarenta e cinco do segundo tempo. Rapaz, o mundo é tão hostil que até a vida é limitada.