• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Crônicas Alejandro Mercado

Dias de chuva me lembram Recife

porAlejandro Mercado
20 de novembro de 2015
em Alejandro Mercado
A A
Dias de chuva me lembram Recife

Imagem: Gervasio Troche.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

Dias de chuva me lembram Recife. Imagino a estranheza do leitor diante desta frase, mas confesso que ela retrata com fidelidade minhas lembranças da capital pernambucana. Aos que associam a cidade com a praia de Boa Viagem e seus quase sete quilômetros de extensão, céu azul e sol escaldante, é necessário dizer que Recife é outra quando chove. Parece que nestes momentos ela assume camadas bucólicas, mais associadas com Curitiba, por exemplo.

Muita desta associação se deve ao fato de que, quando para lá me mudei, deixei meu coração e mente por São Paulo. Desta forma, quando a chuva insistia em cair por suas largas avenidas, era como se fossem partes de algumas lágrimas que eu insistia em guardar, enquanto outras eu botava para fora. Como não haviam muitos amigos, geralmente passeava com um único, Sérgio.

Em algumas manhãs, ele me buscava em meu apartamento no seu Uno azul, um tanto judiado pelos asfaltos já rodados. Nos dias de chuva, sentava no banco ao seu lado e íamos rasgando a cidade pelas ruas, lotadas de ônibus, gente e carros, muitos carros. No trecho final da avenida Boa Viagem, antes que virasse Antônio de Goes, reparava como o mar parecia revolto, incomodado com a chuva que impedia seu encontro com turistas. Talvez ele não gostasse destes dias de chuva como eu gostava. Provavelmente não tinha interesse de perambular por todo o Atlântico até retornar à São Paulo. Talvez lhe incomodasse Brasília Teimosa, aquela parcela de vida à margem na Recife dos cartões postais, aquelo modelo urbanístico acidental de sobrevivência de pescadores, donas de casa, estudantes. Talvez.

Sozinho no carro, eu admirava compenetrado aquelas gotículas de chuva escorrendo pela janela lateral.

No trajeto até a rua da Aurora, uns bons dez quilômetros, dividíamos alguns cigarros, sempre fumados com a janela entreaberta, aproveitando que a calha para chuva de seu carro impedia que a água entrasse. Hora ou outra ele parava em algum lugar, uma loja, uma padaria, uma livraria. Sozinho no carro eu admirava compenetrado aquelas gotículas de chuva escorrendo pela janela lateral. Acendia outro cigarro, sempre Free, o único que Sérgio fumava, fechava a janela e baforava aquela fumaça branca no vidro enquanto assistia ela se dissipar.

Foram assim algumas tantas vezes. Em outras, da varanda do apartamento, sentia a força do vento me jogar na cara aquelas gostas de chuva. As chicotadas que levava daquelas frações de céu, mesmo que melancólicas para alguns, eram suaves e alegres para mim. Elas me faziam recordar que dias de céu azul não são necessariamente dias alegres e que, na direção contrária, dias nublados ou de chororô das nuvens podem, sim, representar dias absurdamente alegres.

Não se assuste, então, ao ler que dias de chuva me lembram Recife, pois eles me trazem à mente momentos que estão eternizados. E, no final das contas, dias de sol me lembram Curitiba. Sendo assim, não fui feito para ser compreendido.

Tags: Boa ViagemBrasília Teimosachuvadias chuvososRecife

VEJA TAMBÉM

"A louca da casa", crônica de Alejandro Mercado.
Alejandro Mercado

A louca da casa

29 de setembro de 2017
"A eternidade de Dona Sebastiana", crônica de Alejandro Mercado.
Alejandro Mercado

A eternidade de Dona Sebastiana

15 de setembro de 2017
Please login to join discussion

FIQUE POR DENTRO

A artista visual Mariana Valente. Imagem: Reprodução.

Mariana Valente: “Clarice Lispector escrevia como quem cria um rasgo na linguagem”

16 de maio de 2025
Stephen Sanchez traz seu som nostálgico ao C6 Fest. Imagem: Divulgação.

C6 Fest – Desvendando o lineup: Stephen Sanchez

15 de maio de 2025
Claudio Cataño dá vida ao Coronel Aureliano Buendía na adaptação de 'Cem Anos de Solidão'. Imagem: Netflix / Divulgação.

‘Cem Anos de Solidão’ transforma o tempo em linguagem

15 de maio de 2025
Aos 24 anos, Cat Burns vem ao Brasil pela primeira vez. Imagem: Divulgação.

C6 Fest – Desvendando o lineup: Cat Burns

14 de maio de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.