Sinto que às vezes não nos damos conta da rapidez com que a vida passa. Chegar aos 12, aos 18, aos 21, aos 30, 40, 50, bingo! Eu, que ainda não sou pai, tenho uma sobrinha que na próxima semana completa 10 anos. Em um misto de alegria e espanto, inevitavelmente peguei-me a buscar na memória todos os meus “quando eu for adulto…”.
Pensar no futuro é, mais que um exercício de adivinhação ou futurologia, uma forma de sonhar, de acreditar que o hoje pode ser melhor em um futuro próximo ou, então, que a realidade há de ser promissora quando nos depararmos com a vida adulta.
No meu caso, confesso que não me recordo quando mudei algumas das trajetórias. Com 10 anos, tinha a certeza de que seria um empresário muito bem-sucedido no ramo da informática. Minha meta: colocar Bill Gates para limpar os vasos sanitários de minha empresa. Passados tantos anos, não me lembro por que desejava este fim para o moço da Microsoft, apenas desejava.
Estamos falando do início dos anos 1990. Como assim eu não queria ser um jogador de futebol? Para o esporte bretão, eu nasci com pernas de Curupira, mas sempre fui um ótimo torcedor, desses que acredita no amor à camisa, no planejamento, no trabalho em equipe e a longo prazo. Acontece que fui obrigado a conviver com Nelsinho Baptista, Mário Sérgio Pontes de Paiva, Jair Pereira, Eduardo Amorim, Valdir Espinosa… É, meu gene era de sofredor.
“Para o esporte bretão eu nasci com pernas de Curupira, mas sempre fui um ótimo torcedor.”
Com 14 anos, comecei a andar de mãos dadas com gente “da pesada”, como Marx e Sartre. Foi um pulo para começar a frequentar UNE, Ubes, partidos políticos, engajamento em causas sociais. Meu foco agora era outro: ser um diplomata. Defini todo o caminho: Direito ou Ciências Sociais, para depois entrar no Instituto Rio Branco em Brasília, instituição da qual a mais alta casta da diplomacia brasileira é formada.
Alguns anos antes já tinha surrupiado o primeiro disco de rock and roll de uma das minhas irmãs. Sabia Prisioners in Paradise, dos suecos do Europe, de cor e salteado. Deixei o cabelo crescer, aprendi a tocar violão, guitarra, bateria. Ia me tornar um compositor e fazer música consciente, um misto de grunge, punk, heavy metal e blues. Cada música parecia mais um trecho do manifesto comunista, confesso.
Aos 20 anos, já era macaco velho dos palcos, tinha passado por três bandas e tocado com grandes artistas. Mas não segui a carreira artística. Fui parar na publicidade e propaganda. Fiquei ao lado de grandes nomes da área, como Marcello Serpa, Nizan Guanaes e Guilherme Gomide. Tive dois projetos próprios na área, carregados com alma e coração, além da certeza de que as coisas se encaixariam. Volta e meia revisitava os planos de “quando eu for adulto”.
“Quando eu for adulto”. Quantas vezes falei isso? Quantas vezes você terá falado isso? Por sorte, nunca levei muito a sério a pressão que vem junto com estas conjecturas. Vejo muita gente frustrada que os sonhos não se concretizaram, quase como se houvesse obrigação em atingir tudo, como se a vida fosse uma fase de um jogo de videogame, no qual precisamos cumprir várias etapas para que o jogo nos permita avançar, caso contrário, ficaremos empacados naquele mesmo episódio ad eternum.
Minha sorte é que de videogame ser adulto não tem nada. Nunca “zerei” um game na vida.