Vídeos com a animação de um gato com voz estridente de quem inalou gás hélio; fotos do almoço, da roupa, do trânsito e de animais fofos; vídeos virais da internet; inúmeros memes. Se existe a deep web, aquele espaço conhecido com o submundo da internet, fizemos o favor de criar o “deep Whatsapp”. E na melhor das hipóteses, os grupos que você tem são de familiares, não que isso seja lá um alívio.
De uns tempos para cá, algo que era prático, acessível e (até) interessante, foi tomado por grupos e mais grupos sem pé nem cabeça. Tem o da firma, no qual teu chefe manda todo tipo de piada sem graça; tem o dos amigos da firma, no qual todos falam mal do chefe e de suas piadas sem graça feitas no outro grupo; tem o da academia, da família, do chá de bebê da sua manicure, do aniversário surpresa do amigo da sua esposa organizado pela namorada dele que você, óbvio, nunca viu pessoalmente.
Ok, eu não estou vociferando contra tudo que há de mais moderno e digital. O Whatsapp é uma excelente ferramenta de comunicação, contudo, é muito pau pra pouca obra. Todo diálogo perdeu-se em um emaranhado de “bom dia” sem resposta, porque sim, as pessoas mandam bom dia todo santo dia mesmo que ninguém responda. É a manifestação digital da pessoa que grita em um desfiladeiro e ouve apenas sua voz e, mesmo assim, repete o grito over and over again.
“Se existe a deep web, aquele espaço conhecido com o submundo da internet, fizemos o favor de criar o ‘deep Whatsapp’.”
Há também os grupos de proliferação de mentiras virtuais, segundo os quais Dilma chegou no Ipiranga no cavalo branco de Simón Bolívar, instalou a ditadura-comunista-gayzista-esquerdista-bolivariana-lulopetista-trotskista e, agora, devemos cantar “A Internacional Comunista” vestindo nossas camisas vermelhas com a cara de Che, enquanto seguramos a foice, símbolo maior deste novo Estado.
Temos ainda os de pornografia, que se tornam piores quando avançam a fronteira entre público e privado, crendo que têm o direito de soterrar todo e qualquer resquício de privacidade, afinal no país da simpatia, os Macunaímas creem que a culpa é sempre da vítima.
Não quero ser um caga-regras, mas e os arquivos de áudio trocados por esses grupos? Chego a pensar que isso seja uma estratégia (nefasta) de marketing da Nextel. Por favor, se você faz isso, lembre-se apenas que já inventaram fones de ouvido e ninguém, repito, ninguém mesmo é obrigado a ouvir que sua tia sarou da frieira que a atormentava há alguns dias. Muito menos na hora do almoço.