No longínquo ano de 2010 fui com a minha mulher, naquela época ainda namorada, assistir à animação Toy Story 3 no cinema. O filme tinha acabado de ser lançado, então as sessões estavam sempre cheias do público alvo: uma porrada de crianças correndo com óculos 3D pra todo lado.
Começou a projeção, todo mundo logo ficou encantado com o curta Day & Night e em seguida começamos a matar saudades do Woody e seus amigos. Eis que lá pelas tantas, a história foi ficando bem tensa, os personagens entraram em apuros e as risadas foram rareando até sumirem por completo.
Não demorou para que lá estivesse eu, soluçando enquanto os coitados dos brinquedinhos davam as mãos e seguiam rumo a um incinerador assassino. Daquela cena até o belo final em que os bonecos são passados adiante, as Cataratas do Iguaçu resolveram atravessar os meus olhos.
Sobem os créditos, a pirralhada volta a a rir e a correr e eu ali, dando graças a deus por ter mais alguns minutos pra me esconder sozinho atrás dos óculos 3D, já que minha mulher não ficou nem com as vistas úmidas (o único desenho que a derrubou até hoje foi o anime Túmulo dos Vagalumes, também conhecido como O Desenho Mais Triste da História do Universo, segundo eu mesmo. Mas neste caso, se você não chorar, é porque realmente há um repolho no lugar do seu coração).
Enfim, tenho isso de abrir o berreiro de forma meio descontrolada com coisas que assisto ou leio. É uma arte que exige muita prática e pouco senso do ridículo.
O livro Uma Vida Pequena, da Hanya Yanagihara, por exemplo, me causou um ou outro constrangimento, pois fui flagrado chorando (chorando mesmo, naquele ponto em que a gente fica até meio ranhento, começa a fungar e alguém oferece lenço não se sabe se por dó ou nojo) na livraria, no café, na praça de alimentação do shopping… Pelo menos nesse caso folgo em dizer que não fui o único.
Tenho isso de abrir o berreiro de forma meio descontrolada com coisas que assisto ou leio. É uma arte que exige muita prática e pouco senso do ridículo.
Dia desses estava assistindo ao filme Sing Street, mais um belo trabalho do diretor John Carney, e aparentemente tudo estava sob controle com os meus canais lacrimais. Mas eis que começaram a surgir cenas tocantes sobre a relação de afeto entre dois irmãos e aí uma metralhadora de lembranças disparou na minha cabeça, lembrei de algumas merdas que eu e meu irmão passamos na infância e, pronto, chorei que foi de soluçar.
Com o tempo vai ficando fácil, seus olhos ficam bem treinados e passam a abrir suas comportas ao menor sinal de emoção.
Essa semana eu estava ouvindo um episódio impressionante do Projeto Humanos, um podcast de storytelling, e ali pelo meio, o cara que passou sei lá quanto tempo preso numa penitenciária conta de uma forma entusiasmada como foi a primeira vez em que ele saiu na rua depois de tudo e sobre como ele ficou emocionado ao perceber as cores das coisas, pois na cadeia tudo era muito monocromático. Ele vai explicando os detalhes de uma forma muito tocante e finalmente o ouvinte consegue percebê-lo como um ser humano. Se por acaso você também estava preso, não na cadeia, mas no trânsito da Rápida Portão numa quarta-feira qualquer e viu algum motorista ridículo chorando ao volante no carro ao lado, saiba que provavelmente era eu ouvindo esse podcast.
Já chorei no ônibus lotado ouvindo música, com a testa apoiada no vidro e me imaginando num videoclipe. Já chorei dando aula, emocionado com algumas histórias que os alunos contaram. Já chorei em show ao vivo e até em bingo beneficente. Por outro lado, em casamentos, contrariando a tendência aquática, ninguém nunca viu um tostão de minhas lágrimas dentro da igreja, até porque, como você sabe, homem não chora.