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Home Crônicas Eder Alex

A mancha

Eder Alex por Eder Alex
23 de setembro de 2016
em Eder Alex
A A
mancha

Foto: Reprodução.

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A poltrona ficava no canto da sala em que batia um pouco de sol pela manhã, a luz atravessa a grade da janela e quadriculava o carpete claro. Ele gostava de descansar o pé ali quando era maio, o gato balofo também.

O garoto ligava a TV bem baixinho para não incomodar a leitura do avô, sempre às voltas com edições antigas, com capa de couro e aquelas fitinhas para marcar página igual a uma bíblia. Às vezes ele ficava tanto tempo na mesma página, os olhos meio cerrados, que o garoto se aproximava de mansinho para conferir se ainda respirava, então o velhinho soltava um suspiro bem fundo e era preciso fingir que estava apenas pegando uma peça de Lego que havia ido parar perto da poltrona. O avô forjava sua cara de bravo, depois desmoronava num sorriso generoso, colocando o menino no colo e contando aventuras fantásticas que fingia ser roubadas dos livros, mas que todos sabiam ser mentira, pois aquelas histórias eram sobre ele, sempre foram.

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Encheu a caneca de café com leite, pegou algumas bolachas de maisena no pote sobre a mesa e foi para sala. Como o avô não estava na poltrona, resolveu se sentar nela até ele voltar, ajeitando-se confortavelmente nos vincos deixados pelo corpo e pelo tempo. Foi o seu outro erro.

Na manhã de sábado em que tudo aconteceu, o menino pretendia acordar às sete horas, pois queria assistir aos desenhos e conversar com o avô, mas ele cometeu um erro, o primeiro deles, na hora de programar o despertador. Quando levantou, a casa estava vazia. Apenas um bilhete da mãe na geladeira. Até hoje não recorda o que estava escrito exatamente, mas lembra-se, nisso que a mente tem de nos fazer lembrar detalhes estúpidos em momentos terríveis, que o bilhete estava preso com um imã de uma pizzaria que ficava a poucas quadras da casa.

Encheu a caneca de café com leite, pegou algumas bolachas de maisena no pote sobre a mesa e foi para sala. Como o avô não estava na poltrona, resolveu se sentar nela até ele voltar, ajeitando-se confortavelmente nos vincos deixados pelo corpo e pelo tempo. Foi o seu outro erro.

O gato deu um pulo em direção à janela como se houvesse um perigo iminente, o que era impossível, já que estavam no nono andar. O garoto demorou alguns segundos para perceber que no susto havia derramado a xícara de café na poltrona. O líquido se espalhou e rapidamente começou a ser absorvido pelo tecido, pintando tudo de um tom muito escuro. Correu para pegar uma toalha e nesse exato momento o telefone tocou na cozinha. Chutou sem querer as peças de Lego que estavam no chão, esticou o braço e conseguiu atender. Era uma tia que morava em outra cidade, ela queria saber onde estava a mãe. Ela chorava muito e fazia perguntas estranhas sobre o avô, falava em carro, hospital. O menino respondeu que não sabia de nada, ela insistiu, soltou frases horríveis e ele apenas desligou o telefone.

Ficou um tempo parado, remoendo aquelas palavras, a temperatura da lajota se entranhando em seus pés descalços, ele e o apartamento vazio virando uma coisa só. Tentou lembrar alguma história do avô para encher a cabeça e empurrar aquele sentimento ruim pra fora, mas não conseguiu.

Quando voltou para a poltrona, suas mãos tremiam e então ele percebeu que a mancha ainda avançava como uma onda gigante arrasando uma paisagem antiga. O telefone tocou novamente, mas ele não atendeu. Começou a esfregar a toalha com violência, quase danificando o tecido, mas a poltrona parecia sedenta e fazia o líquido enveredar por entre os velhos sulcos de forma cada vez mais profunda.

O telefone, insuportável, não parava de tocar.

Quanto mais o menino esfregava a poltrona, mais a mancha se espalhava.

Tags: avôCafécrônicafamíliamancha
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