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Home Crônicas Helena Perdiz

Cama

porHelena Perdiz
4 de maio de 2017
em Helena Perdiz
A A
Cama dentro de quarto

Foto: Sleepopolis.

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O despertador tocou. Abriu só o olho esquerdo, “mas já?”, desligou. Forçou o corpo para a frente e não conseguiu se levantar da cama. Tentou mais uma vez. E mais outra. “Perae, tem alguma coisa errada”.

– Não vai levantar coisa nenhuma, vai ficar aqui comigo. Você não precisa de trabalho, de amigos, só precisa de mim.

– Mas que porra é essa?

Era isso: a cama dele não apenas falava, como aparentemente era uma maníaca obcecada e queria mantê-lo como refém.

– Não cuspa no colchão que dormiu.

– Eu quero acordar!

– Você não está sonhando, bobinho. Está acordadíssimo – o que é uma perda de tempo, por sinal, com aquele frio lá fora.

– Impossível. É a cara do meu cérebro criar uma cama falante sequestradora.

Fez uma nova tentativa de se levantar. Sem sucesso. Era como se a cama o estivesse abraçando, mesmo sem braços.

– Vamos ficar quietos e dormir mais cinco minutinhos.

Era como se a cama o estivesse abraçando, mesmo sem braços.

– Vamos ficar quietos e dormir mais cinco minutinhos.

– Não! Eu preciso ir trabalhar, puta que pariu! Fiquei até de madrugada fechando o relatório de abril, vou entregar isso hoje nem que eu tenha que arrastar você junto pro escritório.

– Shhhhhh. Quietinho.

– Me deixa levantar! Socorro!

– Ai, mas tá bem difícil dormir com você gritando assim. Eu tô aqui fazendo um favor. Quantas vezes você desejou voltar a dormir ao invés de pegar três metrôs lotados com cheiro de muçarela estragada logo cedo? Aproveita a chance, vira aí e dorme.

– Mas que chance? A chance de ficar desempregado?

– Você é um ingrato!

– Ah, mas você não pode falar assim comigo, mesmo. Eu arrumo você todo dia, troco o lençol uma vez por semana, falo pra todo mundo o quanto sinto sua falta durante o expediente, “queria minha cama agora”, pra você me chamar de ingrato?

O travesseiro em que ele estava deitado foi puxado e jogado na parede.

– In-gra-to.

– Por quê? E por que hoje?

– Por que hoje o quê?

– Não me deixar levantar logo hoje, um dia tão importante. Eu fiz o melhor relatório da história dos relatórios, poderia ser promovido.

– Uma cama bem resolvida precisa reservar data no calendário para demonstrar seu amor? Senti que era hoje e fiz.

– E agora, o que você pretende? Me manter dormindo em você pra sempre?

– Não pra sempre, alguns meses. Você pode hibernar.

– Você é uma cama psicopata, sabia?

– Você vai se arrepender por ter falado isso.

Desta vez, foi ele arremessado na parede. Bateu a cabeça, caiu no chão e abriu os dois olhos. Alguns segundos estático e o alívio, “Era um pesadelo! Era pesadelo, caramba, pesadelo!”. Levantou e ficou olhando para a cama, imóvel – como deve ser.

Virou-se para o rádio relógio: restavam duas horas antes do despertador tocar. Pegou o edredom e foi para o sofá.

Tags: AmigoscamaCrônicadespertadordormirrelatóriosofátrabalho

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