Todo ser humano passa por uma situação em comum ao longo da vida: o chuveiro queima bem no meio de um banho maravilhoso. A pessoa pode ser boa ou ruim, humilde ou mesquinha, simplesmente acontece. E se ainda não rolou com você, pode tirar esse sorrisinho vitorioso do canto dos lábios, meu bem, porque vai acontecer e vai ser no inverno. E vai ser antes de ir ao trabalho ou dormir. E você vai gritar “puta que o pariu, por que comigo?” – a resposta é fácil: porque sim.
Fico pensando se os chuveiros planejam isso para nos mostrar que exercem um forte poder no mundo dos homo sapiens, só pra mandar o recado “vocês não são nada sem nós, seres inferiores”.
De qualquer forma, já que é inevitável, temos que curtir o momento, aproveitá-lo ao máximo e ver o lado bom da coisa. Sim, tem o lado bom da coisa, é claro que tem, sempre existe o lado bom da coisa.
“De qualquer forma, já que é inevitável, temos que curtir o momento, aproveitá-lo ao máximo e ver o lado bom da coisa.”
Por exemplo, aquele jato repentino de água faz o corpo ter que ser mais forte e nos transforma em verdadeiros guerreiros de uma hora para outra. A gente sai dali transformado, pronto para uma batalha viking (ou para ganhar uma discussão com o chefe, caso você não goste de batalhar com vikings).
E a sensação de vitória por poder encher a boca pra falar “eu sobrevivi”? Ninguém nos tira isso, somos todos campeões. Quem enfrenta um chuveiro queimado, enfrenta terremotos, furacões e bigatos na goiaba (pela metade, porque o outro pedaço você comeu), sempre com a cabeça erguida.
Quer mais? Ainda tem o ganho de agilidade. A saída rápida debaixo d’água nos ensina um novo movimento, um novo ritmo, uma nova ginga que pode ser aplicada em outras situações – como quando a metade do pão com manteiga vai cair no chão, e é preciso rapidez para pegá-la no ar antes que o pior aconteça.
Por fim, ainda sobra uma nova história pra contar. Falta de assunto? Nunca mais! “O dia em que o chuveiro queimou e eu estava atrasado” pode nos acompanhar por gerações. Amigos vão, amigos vêm, mas a história permanece – e, a cada ano, ganha um exagero pra ficar mais bonita e interessante.
Ainda não se convenceu? Pois então é melhor começar a achar os seus próprios motivos para seguir em frente, porque quando a hora chegar você vai precisar deles. E ela vai chegar. E vai ser no inverno. Porque sim.