• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Crônicas Henrique Fendrich

Jogava bola e era amado

porHenrique Fendrich
20 de setembro de 2017
em Henrique Fendrich
A A
"Jogava bola e era amado", crônica de Henrique Fendrich.

Imagem: Reprodução.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

E, depois de muito tempo, houve uma partida de futebol. Andávamos destreinados e sedentários, seria até o caso de deixar um desfibrilador por perto. Com muitos ali eu nunca havia trocado um passe, e era com desconfiança que olhavam para aquele nerd que se parecia com o Harry Potter: será possível que esse aí joga alguma coisa? Eu já estava acostumado com essa descrença das minhas habilidades futebolísticas, e naquele dia, mais do que em qualquer outro, eu não dava a ela a menor importância.

Em verdade, o meu pensamento estava bem longe. Naquela manhã havia acontecido uma coisa inédita e tão incrível que toda a minha vida passou a ser vista sob uma nova perspectiva. Foi aquele surpreendente “te amo” dito ao final de uma conversa, primeiro “te amo” de um relacionamento, uma amizade, que já durava alguns meses. E eu não era muito de ouvir, como também de falar, uma coisa tão impactante como aquela. Já havia dito algumas coisas bonitas, já havia ouvido outras mais, mas nada que fosse uma declaração tão reveladora daquilo que se sente.

E, de repente, saiu um “te amo”, e foi direcionado a mim. Foi dito de forma natural, como se fosse a forma habitual com a qual nos despedíamos. E, no entanto, eu sabia que as coisas não seriam as mesmas depois dele. Era maravilhoso e era assustador, dava muito que pensar e era por isso que meu pensamento estava longe do campo.

Mas eu jogava bem, não sou nenhum craque, mas naquele dia eu jogava bem. Em parte, porque não acreditavam que eu soubesse jogar e me davam muito mole, e em parte porque eu estava como que encantado e tudo o que eu fazia dava certo. Fiz até gol de entrar com bola e tudo. A falta de treino, entretanto, me fazia cansar e ir diversas vezes para o banco de reservas. De lá eu acompanhava aquele monte de macho correndo por uma bola.

Era quando eu ainda estava recarregando minhas forças que o clima esquentou. Houve uma dividida mais forte e dois jogadores se estranharam. Trocaram palavras ríspidas e, não fosse a turma do deixa-disso, é possível até que chegassem às vias de fato. Eu assistia àquilo admirado que alguém ousasse brigar no mundo em que pessoas podiam dizer que amavam umas às outras. Talvez aqueles dois não tivessem ouvido nenhuma declaração naquele dia, talvez já tivessem banalizado o próprio amor. O fato é que eu pairava bem acima daqueles desentendimentos.

Que me importava aquela dividida, que me importava aquele jogo, a própria derrota do meu time? Eu era amado.

Que me importava aquela dividida, que me importava aquele jogo, a própria derrota do meu time? Eu era amado. O jogo terminaria, nós voltaríamos para as nossas casas e eu continuaria amado. Podia ser feio, desengonçado, andar meio curvado e não conseguir domar o meu cabelo, mas era amado do mesmo jeito. Sentado à sombra, esperando a minha vez de voltar a entrar em campo, eu desviei o olhar da partida, comecei a observar árvores e pássaros, a sentir a brisa que me atingia. Não, eu nunca seria um jogador de verdade, sou um lírico e desocupado.

Reclamam que a bola saiu, dizem que foi falta, e a tudo eu acedo prontamente. Harry Potter está feliz, Harry Potter ama e é amado. E, para que também não possam se queixar do meu desempenho, recebo a bola, dou um drible desconcertante e chuto com força. Na gaveta.

Tags: AmorCrônicadeclaraçãofutebolHarry Potter

VEJA TAMBÉM

"Drama da mulher que briga com o ex", crônica de Henrique Fendrich.
Henrique Fendrich

Drama da mulher que briga com o ex

24 de novembro de 2021
"A vó do meu vô", crônica de Henrique Fendrich
Henrique Fendrich

A vó do meu vô

17 de novembro de 2021
Please login to join discussion

FIQUE POR DENTRO

Série chegou ao fim após 3 temporadas, mas deixou possibilidade de spin-off. Imagem: Netflix / Divulgação.

‘Round 6’ termina em sacrifício, dor e silêncio

4 de julho de 2025
Michelle Williams e Jenny Slate estão impecáveis em 'Morrendo Por Sexo'. Imagem: 20th Television / Divulgação.

‘Morrendo Por Sexo’ acerta na sua abordagem franca da sexualidade das mulheres

3 de julho de 2025
Cantora neozelandesa causou furor com capa de novo álbum. Imagem: Thistle Brown / Divulgação.

Lorde renasce em ‘Virgin’ com pop cru e sem medo da dor

3 de julho de 2025
Paul Reubens como Pee-Wee Herman. Image: HBO Films / Divulgação.

‘Pee-Wee Herman: Por Trás do Personagem’ busca justiça ao comediante Paul Reubens

2 de julho de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.