• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Crônicas Henrique Fendrich

Últimas horas de domingo

porHenrique Fendrich
3 de março de 2021
em Henrique Fendrich
A A
Últimas horas de domingo, crônica de Henrique Fendrich

Imagem: Reprodução.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

É um domingo, seis horas da tarde. Começam a despontar as primeiras estrelas, as luzes dos postes já se acendem, diminui o movimento de pessoas nas ruas: é mais um final de semana que caminha para o fim. Costumamos chamar essas últimas horas de um domingo de melancólicas, porque é o fim do nosso descanso, porque amanhã cedo estaremos de volta ao trabalho, geralmente um trabalho de que nós não gostamos, mas ao qual não podemos nos furtar. E, contudo, há melancolias muito maiores do que essa acontecendo por toda a cidade e nem percebemos.

Imaginem um prédio comercial, desses que só funcionam de segunda a sábado. Naturalmente, não há ninguém fazendo compras ali nas últimas horas de um domingo, mas isso não significa que o prédio esteja vazio. Se você prestar atenção enquanto passar por ali, se esticar o olhar para dentro, provavelmente vai ver alguns movimentos e talvez ouvir alguns sons.

Trata-se do segurança do prédio. O segurança do prédio precisa estar ali mesmo que nenhuma loja esteja funcionando – na verdade, é justamente para momentos como esse que a sua presença é exigida. É domingo, seis horas da tarde, já está anoitecendo e o segurança está sozinho dentro do prédio. Ele é um homem já de certa idade e isso explica o fato de ter, como a sua única companhia, um aparelho tão fora de uso como um radinho de pilha. O que ouve o segurança no rádio de pilha às seis horas da tarde de um domingo? Evidentemente, os comentários sobre a partida de futebol que acabou ainda há pouco.

É domingo, seis horas da tarde, já está anoitecendo e o segurança está sozinho dentro do prédio.

Graças ao rádio, ele havia conseguido se livrar do tédio ao redor e se transportar para um estádio, para a própria beira do campo. Ele ouviu a partida inteira, ouviu as entrevistas ao final do jogo, ouviu tudo o que disseram os comentaristas, acompanhou a votação do “craque do jogo” e ainda ouvia quando o apresentador anunciou o final da transmissão. E, durante todo esse tempo, ele permaneceu ali, dentro de um prédio comercial onde não acontecia nada, onde ninguém podia ouvir o que ele tinha a dizer a respeito do jogo que havia acabado de acompanhar.

É o fim do domingo chegando mais uma vez. O segurança olha para fora e por vezes até vê um ou outro pedestre, mas já são bem poucos. Devem estar indo a uma igreja. Muitos dedicam as últimas horas do domingo para irem a missas ou cultos. Por certo, o segurança também tem a sua crença religiosa. Mas ele não está em condições de honrar os dias santos, ele precisa passar os dias santos trabalhando, dentro de um prédio comercial onde não há mais ninguém.

O segurança provavelmente tem uma família, mas não pode estar com ela nos últimos momentos do domingo. Dirá alguém que ele terá alguma folga durante a semana, e é verdade, mas então já não é a mesma coisa, porque o resto da família não estará de folga com ele. Ele, de toda forma, passará a noite ali, tomando conta de um prédio que não é o seu, e só porque não se pode confiar no ser humano, não se pode deixar um prédio desses dando sopa por aí.

Se entrevistado, é provável até que o segurança dissesse que não tem problema, que já se acostumou com essa rotina, e isso certamente aliviaria a nossa consciência. Mas nem por isso esse cenário deixaria de configurar um quadro triste, mais melancólico do que o nosso, nós que passamos as últimas horas de domingo ao lado da família, perto da geladeira e do computador, e que reclamamos da musiquinha do Fantástico sem saber o quanto somos felizes.

Pensai, por um instante que seja, no segurança de um prédio comercial, nas últimas horas de domingo do segurança de um prédio comercial.

Tags: CrônicaDomingofim de domingoMelancoliamúsica do fantásticoprédio comercialsegurança

VEJA TAMBÉM

"Drama da mulher que briga com o ex", crônica de Henrique Fendrich.
Henrique Fendrich

Drama da mulher que briga com o ex

24 de novembro de 2021
"A vó do meu vô", crônica de Henrique Fendrich
Henrique Fendrich

A vó do meu vô

17 de novembro de 2021
Please login to join discussion

FIQUE POR DENTRO

No episódio do último dia 13, Lucimar (Ingrid Gaigher) faz download do aplicativo da Defensoria Pública. Imagem: TV Globo / Reprodução.

‘Vale Tudo’ mostra que as novelas ainda têm força entre os brasileiros

23 de maio de 2025
Segunda edição da Bienal do Lixo ocupa Parque Villa-Lobos até domingo. Imagem: Divulgação.

Em ano de COP30, Bienal do Lixo quer desafiar população a conceber novas formas de pensar o consumo

23 de maio de 2025
Imagem: IFA Film / Reprodução.

Cabelo ao vento, gente jovem reunida

23 de maio de 2025
Nile Rodgers carrega muito talento e hits em sua carreira de quase 50 anos. Imagem: Imagem: Divulgação.

C6 Fest – Desvendando o lineup: Nile Rodgers & Chic

22 de maio de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.