A vontade de cumprimentar alguém, estender a mão, olhar nos olhos e sair de uma falsa invisibilidade parece ser bissexta por estas bandas curitibanas. Há quem entre em elevadores com os olhos baixos, mirando os sapatos, ou fazendo cara de paisagem, como se estivesse em uma bolha, que nada ou ninguém pudesse penetrar. Dizem que isso teria a ver com uma suposta timidez eslava, herdada de uma parte expressiva de nossos colonizadores, imigrantes do Leste Europeu.
Outros cogitam uma certa falta de traquejo social, provincianismo encruado há gerações, em um estado que já foi a parte mais remota do estado de São Paulo, e prefere refúgio na mudez de uma aparente indiferença a enfrentar os desafios da sociabilidade.
Prefiro não arriscar palpites antropológicos, ou mesmo históricos, sem qualquer fundamentação teórica, ou científica.
É fato, contudo, que nós, curitibanos, temos uma irresistível atração por filas, mesmo quando já temos lugares assegurados, como nos cinemas e teatros. E também evitamos puxar conversa com quem está na frente ou atrás de nós. Eu mesmo já me vi fingindo ler um livro, ou navegando a internet pelo celular, a evitar diálogos indesejados com desconhecidos, como se nada tivesse a dizer ou a ouvir, quando espero pelo ônibus. Sempre, devo confessar, com um bocado de culpa, compensada por uma generosa dose de alívio por não ter de interagir contra a vontade, e sair da minha zona de conforto.
É fato, contudo, que nós, curitibanos, temos uma irresistível atração por filas, mesmo quando já temos lugares assegurados, como nos cinemas e teatros. E evitamos puxar conversa com quem está na frente ou atrás de nós.
E, mesmo alguém quando se faz de desavisado e fura a fila, curitibanos da gema também preferem ignorar esses deslizes a reclamar em voz alta, armar barracos indesejados, se expondo a constrangimentos desnecessários. Por isso, talvez, muitos minutos se passem até que alguém tome a iniciativa quando, no escurinho do cinema, a projeção está fora de foco ou de quadro. Não gritamos, falamos alto, nos expomos. Esperamos que alguém o faça por nós. E, de preferência, sem muito alarde.
Não acho que curitibanos sejam inerentemente antipáticos. Frios? Talvez, afinal vivemos na capital com as temperaturas mais baixas do país. Distantes? Muito provavelmente. Mas grosseiros, de forma deliberada? Capazes de dar informações erradas a turistas incautos, como reza uma cruel lenda urbana? Isso já não sei. Se há um tanto de verdade nesses mitos, eles também são enganadores, e sobretudo redutores. Intriga da oposição.
Curitibanos são complexos, por vezes intransponíveis, econômicos nos gestos, e nas atitudes, o que nos dá uma peculiar justeza. Somos menos, talvez, para conseguirmos ser mais. Mas raramente em público. “Fica chato”, murmura a mulher do lado, que segue conversando durante o filme com seu acompanhante. E eu reluto em chamar a sua atenção.