Regredimos. Se já fomos, e não creio que sejamos mais, uma pátria de chuteiras, nos tornamos ao longo dos últimos anos um país de torcidas infantilizadas, porém também virulentas e implacáveis, que gostam de ser cruéis para chamar a atenção. É a tal estética miliciana.
Seja para levar à vitória o seu candidato favorito em um reality show, ou para cancelar o rival transformado em um vilão de conveniência, o que anda prevalecendo é o efeito manada coordenado. Isso também vale para defender um político de estimação, e deslegitimar o opositor. Não está do meu lado, está contra mim.
A radicalização dos discursos não se dá apenas no âmbito das redes sociais, contudo. Só não enxerga quem não quer que estamos vivendo tempos de violência. Ao vivo e em cores, também.
Regredimos. Se já fomos, e não creio que sejamos mais, uma pátria de chuteiras, nos tornamos ao longo dos últimos anos um país de torcidas infantilizadas, porém também virulentas e implacáveis, que gostam de ser cruéis para chamar a atenção. É a estética miliciana.
Noutro dia, através da janela do meu apartamento, testemunhei o quase linchamento, por um grupo de motoboys, de um suposto ladrão de celulares. O rapaz foi derrubado de sua bicicleta no cruzamento entre duas das vias mais movimentadas do Centro de Curitiba.
“Paga ladrão!”, foi o grito de desencadeou a ação de justiçamento. Em segundos, o ciclista estava sendo espancado sem dó nem piedade, estendido sobre o asfalto, recebendo golpes de capacete na cabeça. Era por volta de 20 horas, havia gente passando. Muitos olhavam e nada faziam, alheios anestesiados. Outros apoiavam, instigavam, enquanto alguns poucos se indignaram com a covardia. Gritaram alto e foram xingados de “Comunistas!”. “Tá com pena, leva pra casa!”.
Não levaram, mas chamaram a Polícia Militar, que impediu o linchamento e prendeu o suposto ladrão, e sua bicicleta, agora manco e ensanguentado, mas não seus agressores, que continuaram trocando desaforos com quem se indignou: “Vocês só falam merda!”. Não pareciam entender que punir não cabia a eles.
Esse incidente, até certo ponto corriqueiro em uma cidade do porte de Curitiba, reafirmou em mim a certeza de que estamos hoje no limite da barbárie, da legitimação da violência, real e simbólica, como forma de resolução de conflitos. Viramos hooligans em nosso coliseu chamado Brasil.