No último domingo à tarde, em Curitiba, os destinos de duas mulheres foram unidos por um maracujá voador. Isso mesmo, por uma fruta conhecida por suas propriedades calmantes e também chamada em muitos países como Fruto da Paixão.
O maracujá estava congelado e foi lançado do alto da sacada de um prédio residencial de classe média localizado à Avenida Visconde Guarapuava em direção dos participantes de uma carreata, da qual participavam “cristãos” indignados com a decisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de manter fechados templos e igrejas em cidades onde governadores e prefeitos decretaram o fechamento desses espaços de fé, para evitar aglomerações e, assim, reduzir o contágio da Covid-19.
No último domingo à tarde, em Curitiba, os destinos de duas mulheres foram unidos por um maracujá voador. Isso mesmo, por uma fruta conhecida por suas propriedades calmantes e também chamada em muitos países como Fruto da Paixão.
Uma de nossas personagens é uma psicóloga de 53 anos, que se preparou para o arremesso, como quem vai à guerra. Manteve o fruto em seu freezer por tempo suficiente para que ele ganhasse solidez, peso, e voasse com mais determinação rumo ao seu objetivo, que não era, quero crer, necessariamente a cabeça da segunda personagem, uma manifestante “terrivelmente evangélica” de 73 anos, que tomou a decisão de, a despeito de fazer parte de um dos grupos primordiais de risco, aglomerar durante seu protesto “cristão”.
Ao receber o maracujá na cabeça, veloz e impulsionado pela força da gravidade, perdeu os sentidos e levou um corte, ferimento que a levou ao pronto-atendimento de um hospital local. Não morreu, felizmente. A atiradora do maracujá, dizem as testemunhas, de outros frutos indignados também, foi detida pela Polícia Militar, por tentativa de homicídio e deverá responder a processo judicial.
Longe de querer defender ou justificar o atentado frutoso perpetrado pela psicóloga, talvez revoltada com a perturbação de de seu domingo caseiro, interrompido pelo buzinaço comandado por um carro de som, pregando de forma estridente sua cruzada contra o “comunismo do STF” , eu gostaria de pedir um pouco de seu tempo, leitor.
A mulher dos maracujás não estava, absolutamente, certa ao premeditar um ato de violência, tampouco de cometê-lo, mas não seria também a sua vítima igualmente criminosa na arrogância de sua fúria cristã em favor do governo federal (sim, era um ato político!)?
Não cabe a mim questionar as motivações ideológicas da manifestante, mas uma pessoa de sua idade deveria estar nas ruas, cercada de dezenas, senão centenas, vociferando perdigotos, aglomerando de punho em riste e se expondo ao contágio? Os organizadores da carreata deveriam, tão zelosos em sua fé cristã que dizem ser, ter sido mais cautelosos com os seus, pedindo que ficassem em casa, seguros, a orar pelo país e pelas dezenas, centenas de milhares de doentes na cidade, no estado e no país.
Assim, talvez o maracujá voador tenha sido uma tentativa de tratamento precoce, e equivocada, contra a irresponsabilidade e a loucura que assolam o país, inócua e danosa como a cloroquina e ivermectina, que também andam voando por aí desde o início da pandemia a causar estrago