O ato de criar exige um bocado de ousadia. Sempre, de alguma forma, desafia o previsível, sugerindo que não mudar, apostar no já conhecido, é a opção mais segura para manter o conquistado, e de certa forma sempre repetir, e permanecer no mesmo lugar, em aparente estado de estabilidade. A vida, embora muitos relutem em aceitar, não é nada disso. É movimento, senão deixa de fazer sentido.
Mas quem traz em si a inquietude de transformar o mundo ao redor, tanto o mais visível e material, quanto aquele mais sutil, abstrato, em matéria-prima para algo novo, deve estar preparado para encontrar algum tipo de resistência. Dela vem uma força importante: os resultados obtidos com facilidade tendem a se esfacelar mais rápido, pois demandam menos engajamento, um mergulho menos profundo. E a alma gosta de se refugiar nas fibras e texturas, no que há de mais essencial, e nem sempre aparente à primeira vista.
Quem traz nos dedos a habilidade para materializar sonhos, brincando com o tempo, e suas múltiplas possibilidades, e manipular as formas, sejam elas de maneira narrativa ou imagética, tem dons de feiticeiro, de alquimista. Esse talento guarda algo de dádiva. Presente dos deuses, de entidades de uma natureza imprevisível, que os distribuem, exigindo em troca, creio eu, a coragem de usar essas habilidades e inspirações para deixar uma marca, uma assinatura de inquietude e originalidade.
Quem traz nos dedos a habilidade para materializar sonhos, brincando com o tempo, e suas múltiplas possibilidades, e manipular as formas, sejam elas de maneira narrativa ou imagética, tem dons de feiticeiro, de alquimista.
Assim, a arte, como a própria vida, se alimenta das imagens de quem sonha acordado, dos que navegam ao sabor de ventos que nem sempre sopram em direções previsíveis. Criar vem a quem ao mesmo tempo sabe contemplar, mas não presume tudo saber, e se permite ousar com um misto de serenidade e fervor.