Distância é um conceito relativo. Estar perto, ao lado de alguém, não significa, de forma alguma, que há proximidade de almas, uma verdadeira cumplicidade. Os abismos mais profundos, e incômodos, são os invisíveis, e por vezes não assumidos, que condenam à pior das solidões, povoada por não ditos, sentimentos que ficam socados no fundo do armário, como roupas que não queremos mais vestir, mas não temos coragem de jogar fora, por conta de um apego vazio, quase egoísta, misturado ao medo (ou preguiça) e fazer uma limpeza mais severa, e justa.
Há, por outro lado, o que vou chamar de distância estimulante, criativa. Erra quem acredita, em desvarios de possessividade autodestrutiva, que tudo deve estar ao alcance dos olhos. Como é bom pode imaginar o que o outro está a fazer, suas aventuras, silêncios, mergulhos existenciais! Sentir falta e criar narrativas, algumas até ficcionais, é muito estimulante no processo de encantamento pelo outro – e, aqui, não me refiro apenas ao amor, mas também a variações afetivas possíveis. Quando alguém é realmente importante, transforma-se em personagem. De sonhos, devaneios, expectativas, aventuras. Sentimentos amorosos, enfim, são criativos.
Quando alguém é realmente importante, transforma-se em personagem. De sonhos, devaneios, expectativas, aventuras. Sentimentos amorosos, enfim, são criativos.
Nascemos sós e, parem para pensar, passamos um parte substancial de nossas vidas sozinhos, porque a vida não nos permite ter copilotos em tempo integral. Ainda bem! Tão encantador quanto estar ao lado de pessoas queridas, é estar longe delas. Para entender a falta que nos fazem, e enxergarmos a verdadeira dimensão do espaço que ocupam em nossa existência. Às vezes pode doer, mas até essa agulhada na alma, é interessante para que possamos compreender, na ausência, quanto a presença dessas pessoas faz diferença.
A distância, portanto, tem a capacidade de, ironicamente, aproximar, quando os quilômetros são preenchidos por bem-querer, verdadeiro interesse pela vida do outro, desejo de completude, que se materializa por meio da satisfação de sabermos que há vida útil acontecendo dos dois lados do rio.