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Home Crônicas Paulo Camargo

O pecado mora ao lado

porPaulo Camargo
28 de janeiro de 2020
em Paulo Camargo
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Imagem: Reprodução.

Imagem: Reprodução.

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Entre garfadas e um momento e outro de distração contemplativa, a realidade atropela sem piedade. Ouve-se alguém, à mesa ao lado, a disparar uma metralhadora giratória verbal: “O jornalismo neste país morreu!”, “A imprensa é toda prostituída!”, “Só é pobre o vagabundo que não quer trabalhar”, “Feminista não faz sexo, só por isso é assim”, “Estamos vivendo uma ditadura gay”. São frases prontas, ditas ao longo de talvez meia hora, em certo tom de deboche convicto e que denotam pouca ou nenhuma reflexão. Apenas orgulho e preconceito. Ainda assim, bate o desespero, a vontade de levantar, pedir licença (ou não) e responder na lata, ainda que nada tenha sido dito diretamente a mim. Respiro fundo, conto até dez e desisto da ideia. Mas até quando?

É muito possível que pessoas como meu vizinho de mesa, que poderia muito bem ser de porta, sempre tenham pensado assim e, antes, apenas tivessem tido pudor de defender essas ideias em público, para todos ouvirem. É ingênuo acreditar que se trate apenas de uma onda conservadora que se ergueu do nada, da noite para o dia. Como há um discurso oficial, não apenas em defesa de muitos desses “valores”, mas os legitimando, a intolerância perdeu o pudor e foi trivializada na era da desinformação sistematizada, planejada.

Entre garfadas e um momento e outro de distração contemplativa, a realidade atropela sem piedade. Ouve-se alguém, à mesa ao lado, a disparar uma metralhadora giratória verbal: “O jornalismo neste país morreu!’, “A imprensa é toda prostituída!”, “Só é pobre o vagabundo que não quer trabalhar”, “Feminista não faz sexo, só por isso é assim”, “Estamos vivendo uma ditadura gay”.

À mesma mesa, ouço uma voz feminina que, em tom mais baixo, quase maternal, acrescenta: “E que barbaridade a situação nas universidades públicas, nessas federais. Ninguém quer nada com nada, é só droga, sexo, estudo que é bom. E a gente pagando por isso. Uma vergonha!”.

Torço o pescoço e quase me levanto para olhar nos olhos a mulher, próxima dos 60 anos e de cabelos falsamente aloirados, duros de laquê, e com o semblante maquiado levemente alterado pela indignação. Fico assustado ao constatar que ela demonstra certa convicção nas palavras que profere, como se tivesse absoluta certeza do que está a dizer aos demais, que concordam com a cabeça, em um misto de revolta e júbilo. Estão a, talvez, dois ou três metros de mim, porém sinto que um abismo se abre entre mim e eles. O pior é que me sinto mais perto do precipício.

Tags: abismoCrônicadiscurso oficialimprensaintolerânciaJornalismoprecipíciouinverisdades públicasverdades

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