Ando duvidando do poder das palavras, confesso. Logo eu, que delas sempre me servi como meio de expressão, e instrumento de trabalho, comecei a duvidar de tudo serem capazes de expressar, ou conter. De uns tempos para cá, tenho me dado conta de suas limitações, e pretensões. Nem tudo cabe no verbo! A fala, por vezes, banaliza, e mal consegue traduzir o que pensamos e sentimos. Preferível, daí, recorrer a outras formas de comunicação, potencializadas pelo silêncio. Talvez o olhar seja a mais poderosa delas, ao lado do toque.
Quem já não se viu diante de situações nas quais o discurso parece não dar conta das ideias que flutuam em nossa subjetividade, percorrendo cérebro e alma em alta velocidade? Há, em alguns momentos cruciais da existência, tanto a dizer, mais um tanto a expressar em termos de sentimentos e sensações. Porém, gaguejamos, nos perdemos no labirinto dos vocábulos, e as frases saem vergonhosamente quebradas, desarticuladas, sem força, arrastando-se. Porque, no fundo, todo esse pulsar é de outra ordem. E os olhos parecem dizer muito mais, porque descortinam o indizível, tudo aquilo que transcende e se lança ao infinito de outras maneiras.
Nem tudo cabe no verbo! A fala, por vezes, banaliza, e mal consegue traduzir o que pensamos e sentimos. Preferível, daí, recorrer a outras formas de comunicação, potencializadas pelo silêncio.
Hoje mesmo, ao tentar escrever esta crônica, me vi perdendo o rumo, escorregando em tudo que fervilhava na minha cabeça, mas hesitava diante das mil e uma opções vocabulares que se apresentavam. Inquietos, e também sem muita paciência, esses pensamentos e emoções queriam trilhar outros caminhos, navegar em outras águas que não as das letras. Pediam, talvez, algo mais sublime, imaterial e volátil. Imploravam por um olhar que fosse. Trocado, cúmplice.
Não me interpretem mal. Quem sou eu para maldizer as palavras? Elas são belas, preciosas, demonstram inteligência, sagacidade, controle. E, mesmo assim, revelam-se de certa forma inúteis em determinadas situações, nas quais tudo que têm a oferecer não serve para muito, ou quase nada. Como um baú cheio de roupas requintadas em uma ilha deserta.
Prefiro, daí, caminhar pela areia quente com os pés descalços, com algo leve sobre a pele, que me permita fitar o horizonte e entender, e não apenas explicar, onde estou e quem eu sou. Olhar.