Nos últimas semanas, comecei a refletir sobre como quase sempre estamos despreparados para enfrentar a ideia da finitude, um tabu em nossa cultura, que tanto celebra a vida como se não houvesse amanhã.
Por mais que, racionalmente, saibamos que o ciclo vital ruma a um desfecho, inevitável, relutamos em olhar a morte de frente. Isso quando não a rejeitamos por completo, em um exercício de negação que não é, necessariamente, uma demonstração de covardia, mas uma estratégia legítima de sobrevivência. A possibilidade de passar por uma dor tão profunda quanto a perda de quem amamos nos força a desviar o olhar do fim da estrada, por mais que se saiba que ela está lá, incontornável. Sempre a nos encarar.
Uma das frases mais dolorosas que já ouvi na vida veio de minha mãe, há 16 anos, quando ela recebeu o diagnóstico de um melanoma, forma mais agressiva e letal de câncer de pele. Abalada, porém firme, ela disparou, à mesa de um restaurante: “Você vai ter de aprender a viver sem mim”. Na hora, quase briguei com ela em público. Disse que não falasse bobagens, que tudo daria certo no tratamento. Acabou não dando: ela faleceu menos de um ano mais tarde.
A morte de alguém que se ama nunca deixa de acontecer. Aprendemos a compreendê-la, a aceitá-la, mas a dor jamais se dissolve por completo. Transforma-se em saudade, em uma colcha de lembranças com as quais nos cobrimos por vezes, quando a ausência se torna difícil.
A orfandade, para a qual ninguém está completamente preparado, não importa a idade, é uma lição que jamais se encerra. A morte de alguém que se ama nunca deixa de acontecer. Aprendemos a compreendê-la, a aceitá-la, mas a dor jamais se dissolve por completo. Transforma-se em saudade, em uma colcha de lembranças com as quais nos cobrimos por vezes, quando a ausência se torna difícil de tolerar.
Muitas vezes esse sentimento fica guardado, contido em uma caixa que mantemos com zelo, e na qual evitamos tocar com frequência, mas sabemos onde está. É uma espécie de tesouro, porque contém a sabedoria da experiência, o aprendizado da perda.
Precisamos falar mais sobre a finitude, como um fato da vida, mas sem nos deixarmos pautar por ela. Viver é tão precioso! Tentar, talvez, naturalizá-la mais, para que, espiritualmente, possamos aceitá-la com menos trauma, e sem tanto sofrimento. Não sei isso é possível, mas não custa tentar.