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Home Crônicas Yuri Al'Hanati

A cabeça do meu irmão

porYuri Al'Hanati
6 de julho de 2015
em Yuri Al'Hanati
A A
"A cabeça do meu irmão", crônica de Yuri Al'Hanati

Imagem: Arquivo Pessoal.

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A cabeça do meu irmão é muito grande. Quando ele nasceu, o médico veio alertar, meio receoso, sobre o tamanho da cabeça do meu irmão. Dizia que tinha um tamanho descomunal, e que isso poderia ser um indicativo de algum distúrbio, já que seu perímetro ultrapassava largamente o limite prudencial do tamanho da cabeça de um recém-nascido. Meu pai, que a tudo ouvia, deu uma risada e tranquilizou a medicina moderna apontando o fenótipo evidente em toda a minha família. Somos todos cabeçudos. Sou cabeçudo como meu irmão, tenho o maior número de cabeça disponível no mercado de chapéus: 60. Qualquer capacete de moto ou boné sem regulagem é um suplício para minha gigante fronte e minhas orelhas apertadas. Um dia, meu irmão também terá todos esses problemas.

“Somos todos cabeçudos. Sou cabeçudo como meu irmão, tenho o maior número de cabeça disponível no mercado de chapéus: 60.”

Ser cabeçudo é parte do que é ser um Al’Hanati. Eu e meu irmão somos muito parecidos, apesar de termos mães diferentes. À exceção de uma diferença aqui ou ali, tanto eu quanto ele e meu pai tínhamos a mesma cara enquanto criança. Quer dizer, meu irmão ainda tem. Ele vai completar 5 anos no mês que vem, então ele tem a mesma cara que eu e meu pai tínhamos quando éramos criança. A boca pequena, os olhos incisivos, a têmpora ampla e a cabeça descomunal. Difícil negar a paternidade com os genes fortes formadores de cabeçorras alarmantes dos Al’Hanatis. Seria mais fácil ser preciso um DNA para acertar a identidade da mãe. Somos diferentes na personalidade, nos gostos e nas posições políticas, mas somos todos cabeçudos, e isso nos define como família.

Meu irmão vive, desde seus primeiros dias, na praia onde nasci e fui criado. Ele frequenta a mesma escola que eu frequentei, anda pelas mesmas ruas, passeia ao largo das mesmas casas, que continuam idênticas as da minha época. Toda a estrutura física que o cerca é reminiscência da minha própria juventude, mas toda a vida interna e a tecnologia circundante é completamente diferente. Assim como nossas cabeças, fadadas a crescer com valores diferentes em função do tempo, mas idênticas em sua circunferência, nossa praia é a mesma por fora e diferente por dentro. Somos criados pelo mesmo pai, mas ele se desenvolve com toda a tecnologia do mundo à mão, absorvendo informação excessiva pelos buracos em seu crânio gigante. Terá outra mentalidade, outra capacidade intelectual, mas nunca outra cabeça. Nunca uma cabeça menor, ou menos redonda, ou com outro formato. Sempre a cabeça de um Al’Hanati. Sempre um cabeção.

Eu nunca ganhei o apelido de cabeção porque sempre fui meio gordo e mantive a proporcionalidade. Não sou exatamente uma pessoa alta, mas sou uma pessoa grande, e isso manteve para mim as aparências de ser uma pessoa proporcional. Tenho, além da cabeça, um pé relativamente grande para minha altura, naquela faixa de numeração em que achar tênis começa a ser um problema. Por sorte, nunca fui de usar bonés, ou chapéus. Meu irmão também não. Sorte dele. Ele não sabe que é um cabeção ainda. Talvez se mantenha proporcional, já que os Al’Hanatis também são meio troncudos. O fato do meu irmão ser troncudo ajuda muito nas aulinhas de judô que ele faz. Derruba todo mundo. Meu irmão é muito troncudo. Quando ele nasceu, o médico…

Tags: cabeçaCrônicairmão

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