A terceira mesa da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), intitulada “A poesia em 2015”, foi marcada por visões antagônicas sobre o fazer poético. Mediado por Carlito Azevedo, poeta, crítico e editor da revista literária Inimigo Rumor, o debate contou com a presença dos poetas Mariano Marovatto e Matilde Campilho.
O carioca Marovatto vê a produção literária como resultado de um vício pelos versos. Já a poetisa lisboeta preferiu exaltar as virtudes da disciplina no fazer poético. Como são amigos de longa data, a divergência – bem como o papo – foi divertida, rendendo, inclusive, uma puxada de orelha da portuguesa. “Você não deve falar mal de seus livros, Mariano”, disse Matilde, que assumiu ao longo da conversa a defesa dos poetas. “Você precisa ter disciplina, assumir seu lugar ao mundo como poeta. Senão, corre o risco de escrever o mesmo livro por toda vida”.

Ela (poesia) pode não salvar o mundo, não salvar vidas como um médico faz, mas salva um minuto. E isso já é suficiente.
A poetisa encantou o público com sua simpatia e seu esforço em reproduzir o sotaque carioca enquanto conversava, trocando-o pelo original ao reproduzir versos de seus poemas. Matilde, que viveu no Rio entre os anos de 2010 e 2013, contou um pouco sobre seu processo de produção. “A poesia é algo que fazemos em casa e mesmo que tenha muita gente em volta, estamos sós”, disse. “A gente se envolve com o papel e rouba um pouquinho das situações, eu me defendo sozinha contra o papel”, completou, recebendo muitos aplausos do público.
Mariano Marovatto publicou recentemente uma obra dedicada ao disco As Quatro Estações, da Legião Urbana. O livro homônimo foi editado pela Cobogó. “A música popular acostumou nossos ouvidos com versos. Temos (poetas) que agradecer aos músicos” comentou Azevedo, citando a importância do cruzamento entre poesia e música. Marovatto aproveitou para falar sobre como estas duas artes se cruzam na obra. “A primeira coisa que escrevi foi uma letra de música. Me senti muito poderoso, nem dormi direito, ansioso para mostrar para os meus amigos no colégio. E aí, todo mundo começa a escrever poesia quando se apaixona. Pena que isso (poesia) não paga nem chope”, brincou o poeta, para o riso do público presente.

Entre discordâncias, risadas e muita poesia, a mesa encerrou com uma reflexão de Matilde Campilho. “A poesia é um caminho acompanhado de muito amor, muita coragem. Mas uma coisa boa de ser poeta é que é uma profissão eterna. Não paramos de ver poesia nas coisas. Ela pode não salvar o mundo, não salvar vidas como um médico faz, mas salva um minuto. E isso já é suficiente”.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.