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‘Não me abandone jamais’: um pouco do brilhante Nobel de 2017

Com uma sinopse de ficção distópica, 'Não me abandone jamais', de Kazuo Ishiguro, na verdade foca na condição humana.

porEric Chen
30 de maio de 2018
em Literatura
A A
'Não me abandone jamais': um pouco do brilhante Nobel de 2017

Imagem: Reprodução.

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Noutro artigo, mencionamos Kazuo Ishiguro, e antes disso noticiamos o Nobel de 2017 que ele ganhou. E não é nenhuma surpresa que o Nobel continue ecoando sua obra. Lembremos: Ishiguro foi premiado porque “descobriu o abismo sob nosso ilusório senso de conexão com o mundo”. Vivemos em um eterno presente promovido pelas mídias digitais. Isso quando não avançamos direto para algum futuro, ansiosos que somos. Ishiguro faz diferente. Em Não me abandone jamais e outros textos, o escritor leva-nos para o passado – e para dentro. Precisamos disso.

O romance Não me abandone jamais (Companhia das Letras, tradução de Beth Vieira), de Kazuo Ishiguro, foi publicado em 2005. Nele, mergulhamos nas memórias de Kathy H., na escola Hailsham, onde ela estudou, os amigos Ruth e Tommy, a cabana onde morou por um tempo… Acompanhamos Kathy desde a infância e tentamos entender os mistérios que a cercavam e que a narradora-personagem aos poucos descobriu.

A escola Hailsham seguia o modelo típico de internato britânico, mas as crianças não tinham famílias que as visitassem. Mais do que isso, as crianças não podiam nunca sair do terreno; lá fora era perigoso demais. As guardiãs cuidavam de tudo e de vez em quando havia um bazar de objetos vindos do exterior. Os adultos tinham comportamentos às vezes estranhos perto dos alunos. À medida que crescem, as crianças começam a entender seu propósito e as defesas contra intrusos começam a fazer sentido. Hailsham era um lugar especial, assim como seus alunos.

No mundo de Não me abandone jamais, vivemos não um futuro e sim um passado alternativo nas décadas de 1980 e 1990. A humanidade alcançou a cura para diversas doenças ainda hoje complicadas, como o câncer, mas pagando um preço. Kathy e as outras crianças levam muito tempo para entender seu mundo. Na realidade, há muito pouco que as crianças sabem do mundo (exterior). Seu desconhecimento é um dos entraves na busca para encontrar as razões por trás de tudo. Tanto que, em suas aulas, chegam ao ponto de terem de praticar interações sociais, tais como fazer pedidos em restaurantes. Trata-se de uma história que soa muito como uma distopia, porém sem compartilhar quase nenhuma característica com suas irmãs populares. É uma trama que o leitor monta peça por peça, vasculhando as memórias de Kathy.

Não me abandone jamais não é uma crítica direta ao “sistema”, não é um confronto, não é uma história de ação. Os embates que seguimos de perto são, em primeiro lugar, introspectivos.

Não me abandone jamais não é uma crítica direta ao “sistema”, não é um confronto, não é uma história de ação. Os embates que seguimos de perto são, em primeiro lugar, introspectivos. É um romance que usa a fundo as qualidades da linguagem escrita para investigar o mundo interior da pessoa humana. Muitos de nós ouviram que o fluxo de consciência foi o salto técnico de escritores como Virginia Woolf. Poucos de nós discutem o suficiente quem são os seus atuais desenvolvedores – Kazuo Ishiguro é um dos maiores.

Pela própria qualidade de exploração do mundo psicológico, é muito difícil transpor para o cinema muitas das pérolas de Não me abandone jamais. Kazuo Ishiguro foca sua escrita justamente naquilo que é o mais difícil de se adaptar em outras linguagens, isto é, o diálogo interno da mente humana, o que é bem complicado de se alcançar no audiovisual, já que esse meio tem outras prioridades e outros talentos.

O filme de Não me abandone jamais, de Mark Romanek, em 2010, é bom. A paleta sóbria combina com o tom da narrativa e as paisagens suaves inglesas formam o perfeito pano de fundo. Sem contar com as atuações de Carey Mulligan, Andrew Garfield e Keira Knightley, que são muito bem encaixadas no filme. Há muito do que gostar.

Fica claro que a adaptação fez um bom trabalho em desenvolver, em seu curto tempo, os personagens e suas questões. Mas o mergulho que Kazuo Ishiguro receita em Não me abandone jamais é profundo. É preciso conviver com a mente de Kathy por mais tempo para alcançar o que o autor propõe para nós. Temos de nos perder nos corredores labirínticos da mente. Temos de resgatar o passado e, o mais difícil, encarar o mundo de transições em que habitamos. O cinema vem com outra proposta e creio que esta não é tão rica.

Kazuo Ishiguro depositou no romance muito mais do que alguém poderia esperar lendo uma simples sinopse. É um exercício de ficção científica – ou deveríamos dizer ficção especulativa? – mas muito mais do que isso também. Não me abandone jamais é sobre grupos humanos, é um debate ético, é uma aventura de carga emocional. Pelo texto, entramos na cabeça de Kathy e vivemos os seus dias com o coração em mãos. Com ela, experimentamos um mundo estranho com um número limitado de possibilidades e uma explosão de sentimentos. Muito à moda inglesa, “a superfície é calma, mas as profundezas borbulham” (Sébastien Le Foll para o Le Figaro). Enfim, o nipo-britânico Kazuo Ishiguro explora a vida interior e a memória como poucos… E quando te disserem que o autor explora pouco questões de identidade, pense duas vezes!

Kazuo Ishiguro é um escritor de peso e, por isso, temos certeza que voltaremos a vê-lo por aqui.

NÃO ME ABANDONE JAMAIS | Kazuo Ishiguro

Editora: Companhia das Letras;
Tradução: Beth Vieira;
Tamanho: 344 págs.;
Lançamento: Outubro, 2017 (atual edição).

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Tags: Andrew GarfieldCarey MulliganCinemaCríticaCrítica LiteráriaDistopiaDramaFicção Científicaficção especulativaidentidadeKazuo IshiguroKeira KnightleyLiteratura InglesaNão me abandone jamaisNever let me goNobelNobel 2017prosaResenhaRomance

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