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‘Veado Assassino’ ousa fazer um retrato sombrio da geração Z

Nova obra do escritor Santiago Nazarian, 'Veado Assassino' utiliza de forma inventiva para contar a história de um adolescente não-binário que assassinou o presidente da República.

porMaura Martins
25 de agosto de 2023
em Literatura
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Autor Santiago Nazarian

Imagem: Renato Parada/Reprodução.

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Desde que o mundo é mundo, a (auto) destruição faz parte da vivência adolescente. O teenage angst já se expressou, por exemplo, pela agressividade do punk, nas músicas sombrias do post-punk, ou no niilismo do grunge. Mas ser jovem atualmente – ou seja, fazer parte da famigerada geração Z – talvez tenha algumas camadas bem específicas de sofrimento.

O mote central do perturbador romance Veado Assassino (editora Companhia das Letras, 2023) do escritor Santiago Nazarian, é apresentar, por meio de uma espécie de entrevista, um adolescente que realizou um grande feito: assassinou um presidente de extrema direita. O contexto, portanto, é óbvio, e constitui-se aqui em uma espécie de fantasia acerca de um possível desfecho ao período político sombrio que vivenciamos há alguns anos: a morte de Bolsonaro (que nunca é nomeado) pelas mãos – na verdade, pela pistola, num detalhe que não é pouco importante –  de uma das pessoas que ele odeia.

Renato, o adolescente crescido em Florianópolis (a escolha do estado de origem certamente não é acidental), define-se como não-binário. Aos dezesseis anos, ele não tem clareza sobre muita coisa, mas já decidiu que sua vida não vale a pena ser vivida. Frente a isso, ele resolve ir embora realizando antes uma façanha. A morte do presidente seria então um ato em prol da extirpação do que há pior no país – e que sedimentou em um sentimento que contaminou seus pais, bolsonaristas ferrenhos.

Mas, mesmo nesse contexto que parte da população parece desejar as respostas óbvias (as noções conservadoras estanques de bem e mal, por exemplo), a juventude ascende como o espaço da fluidez. Embora se apresente como não-binário, há alguma sugestão de que Renato talvez não saiba bem o que é. Virgem, também parece pouco se adequar aos rótulos, como incel. Filho de mãe branca e pai negro, há ainda alguma nebulosidade sobre outros espaços que ele ocupa no mundo.

Santiago Nazarian (leia entrevista exclusiva com o autor) parece ter encontrado um formato bem adequado para contar esta história: todo o romance é realizado sob a forma de diálogo, em que o adolescente conversa (é interrogado? Entrevistado?) com um interlocutor misterioso. Descobrir quem é ele é um dos recursos usados pelo autor para que sigamos até o fim da história.

Um estilo ousado e direto para falar do que vem por aí

Ao optar pela elaboração de Veado Assassino como uma longa entrevista, Santiago Nazarian parece se utilizar de um recurso interessante que o possibilita, bem entre aspas, não dizer nada: quem fala são os seus dois personagens. O sujeito desconhecido funciona como uma espécie de “escada” para que Renato possa tecer suas considerações sobre sua vida e sobre a forma que enxerga a mundo.

Santiago Nazarian parece ter encontrado um formato bem adequado para contar esta história: todo o romance é realizado sob a forma de diálogo, em que o adolescente conversa com um interlocutor misterioso.

Neste sentido, o assassinato do presidente passa a ser apenas um detalhe. De fato, parece interessar mais ao escritor construir e revelar quem seria esse jovem desencaixado, representante de tantos outros, a quem só restou o ódio. Sofrendo de bullying em casa e na escola, Renato, embora lhe falte uma forma, não quer também ser definido pelo que foi imputado a ele.

Há nuances de sua personalidade que vão sendo reveladas aos poucos nesta entrevista, em um bem sustentado trabalho feito por Nazarian ao explorar as possibilidades da linguagem. O veado do título, que poderia ser decodificado de maneira óbvia por tratarmos aqui de uma pessoa da comunidade LGBTQIA+, se transmuta em um signo de força, quando Renato lembra que os animais com chifre podem matar.

O interlocutor misterioso tampouco é neutro. É ele que desconstrói, nesta conversa, a premissa de que os jovens introspectivos e fechados em casa, como os gamers ou os fãs de filmes violentos, seriam naturalmente propensos a colocar sua raiva em planos concretos. “Eu acho que é mais ‘ele via filmes violentos porque tinha vontade de matar’. Filmes de terror não criam assassinos, filmes de terror só tornam os assassinos mais criativos”, afirma, em certo trecho da obra.

Vivemos uma nova onda na ficção de obras que tentam trazer algum sentido na onda de retrocesso simbolizado pelo bolsonarismo (o hilário O Presidente Pornô, de Bruna Kalil Othero, também recém lançado pela Companhia das Letras, é outra obra que se encaixa nesta seara). Indo por outro caminho, Veado Assassino parece buscar um caminho para extravasar o ódio germinado pela classe política. De forma bastante oportuna e mesmo inédita, Santiago Nazarian resolve investigar os impactos de tudo o que vivemos até aqui no “futuro da nação”, os que entraram de gaiato num Brasil aos frangalhos.

Veado Assassino | Santiago Nazarian

Editora: Companhia das Letras;
Tamanho: 112 págs.;
Lançamento: Julho, 2023.

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Tags: Companhia das LetrasCrítica LiteráriaGeração ZLiteraturaLiteratura BrasileiraResenhaSantiago NazarianVeado assassino

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