Entre Möbius and The Healing Process (2014), Meraki (2015) e This Lonely Crowd (Sinewave, 2017), três mais recentes discos da This Lonely Crowd, o mundo mudou. Por mais óbvia que a constatação possa parecer, o trabalho da banda sempre precisa ser compreendido dentro de recortes específicos. Há um universo gigante onde o grupo curitibano busca inspirações para seus discos, mas o “hoje” exerce um papel preponderante na roupagem das canções, nos arranjos, nos timbres e nos processos humanos a que somos submetidos com o passar dos dias. Somos fruto de tudo que se passa conosco entre 0h e 23h59. Por que, então, seria diferente com o quinteto?
Nesta colisão representada pelo novo disco, batizado homonimamente, poetisas como Florbela Espanca, Maya Angelou, Delmira Agustini, Jean Ingelow e Cora Coralina, além da romancista Mary Shelley, surgem como catalisadores de uma obra potente, que segue a essência conceitual do grupo, contudo, acrescentando mais peso (e poesia). Aqui fica clara a importância do “hoje” no processo criativo, resultando nessa sonoridade estética mais densa que os registros anteriores. Nada que venha da banda é por acaso, dos riffs aos nomes dos integrantes.
O álbum reforça a riqueza da discografia da This Lonely Crowd, na qual raramente encontramos deslizes ou excessos.
Essa pretensa falta de sutileza encontrada nas distorções de This Lonely Crowd seria diferente não fosse a sobriedade com que o grupo trata esta fúria. Ser conceitual desta maneira implica, também, em ser de nicho. Não que pareça importar algo à banda, pelo contrário. Por isso, as canções esculpidas pelo quinteto carregam em seu DNA uma dose de originalidade só possível a partir do momento em que você encontra distanciamento entre sua obra e seu público.
Talvez haja um preço a ser pago por esta decisão. Esta introspecção, uma espécie de circuito fechado em que eles cantam e interpretam para si, não necessariamente é assimilada com facilidade. Importante frisar que não se trata de um problema, apenas um caminho diferenciado em que a proposta é bem clara: não subestimar o ouvinte, acreditando que ele é suficientemente capaz de significar esse meteoro imagético e sonoro.
O álbum reforça a riqueza da discografia da This Lonely Crowd, na qual raramente encontramos deslizes ou excessos. Dá margem, ainda, a que o quinteto caminhe a passos largos em se tornar uma banda seminal para toda uma geração que enxerga a música sob um viés mais complexo, desvinculado do simples entretenimento, parte integrante da formação do ser humano, de seu caráter e olhar crítico para a sociedade em que está inserido.
Olhando em retrospecto, esta é a principal contribuição até o momento do grupo: oferecer uma ópera contemporânea sobre a beleza e a dor de ser e estar aqui, um conto de fadas meio acre e do qual não podemos escapar a não ser vivendo. Só resta agora é que eles assumam o palco mais costumeiramente, a não ser que virar lenda também esteja nos planos.