Beck voltou. Talvez essa frase ficasse melhor em inglês, assim como no título deste texto.
Desde que começou sua carreira, em idos dos anos 90, com o premiadíssimo álbum Mellow Gold, o cantor, compositor e multi-instrumentista americano se transformou em referência. Talvez até mais do que isso: em vanguarda. De lá pra cá, a cada álbum era maior o investimento do músico em formas cada vez mais experimentais, misturando em suas faixas o melhor do pop e do rock e dando origem a um som cada vez mais pessoal, sem ser hermético e incompreensível. [highlight color=”yellow”]Beck faz música de qualidade, com personalidade, fácil de ser consumida e difícil de ser esquecida.[/highlight] Poucos são os artistas que podem se orgulhar de produzir esse algo desse naipe há mais de 20 anos.
Na última quinta-feira, 12, Beck lançou seu 13o álbum de estúdio, Colors. Antes que qualquer declaração sobre as 11 faixas que integram o disco, é necessário relembrar o quanto seu antecessor, Morning Phase, foi premiado, inclusive com um Grammy de disco do ano. Qualquer disco que o sucedesse, provavelmente, teria parte de seu brilho toldado pela melancolia e pelo lirismo das canções que o compõem.
Colors é, antes de tudo, um álbum dançante. Vivo, pulsante, lembra o Beck dos anos 90, que não hesitava em misturar pop, rock e hip-hop à sua voz ligeiramente dissonante. Não é, no entanto, o mesmo Beck criativo de vinte anos atrás. Por mais que nada no disco seja ruim ou desprezível em relação ao todo da carreira do artista, nada é tão marcante assim. A primeira faixa, “Colors”, que dá nome ao álbum, mistura as batidas que estamos acostumados a ouvir nas bandas indies que hoje em dia dominam o mainstream, com aquela pegada que é característica de Beck, com uma abundante instrumentação eletrônica que vai ser a tônica de tudo que vem a seguir.
Muito do que faz parte do disco explora de maneira inédita uma veia que sempre esteve latente na obra do artista, que é o potencial dançante e leve de muitas de suas composições.
Muito do que faz parte do disco explora de maneira inédita uma veia que sempre esteve latente na obra do artista, que é [highlight color=”yellow”]o potencial dançante e leve de muitas de suas composições.[/highlight] “Wow” chega inclusive a lembrar o tipo de som que levou o artista ao estrelado, as batidas do hip-hop e do rap com seu vocal, que é a antítese dos vocais tão característicos desses ritmos. Um outro ponto alto é “Square One”, que ecoa um certo Phoenix, porém sem perder a personalidade tão marcante do artista.
A experiência de ouvir Colors do início ao fim faz com que identifiquemos diversas influências contemporâneas, sejam as distorções à la Tame Impala em “Dreams”, ou as batidas da faixa que nomeia o todo, e que em nada ficam devendo ao hit do Foster the People, como se uma das coisas que aparentemente norteou o trabalho do artista nesse momento foi lidar com o cenário contemporâneo e com o tipo de música que tem povoado playlists de festinhas ao redor do mundo. Vale a pena mencionar, também, que quem assina a produção do álbum é Greg Kurstin, premiado por seu trabalho ao lado de artista como o anteriormente mencionado, além de Sia e Adele.
Colors não é nem de longe o melhor trabalho da carreira de Beck, entretanto, está muito longe de ser o pior ou de não possuir brilho próprio. Sua verve dançante e animada dá um ar leve e colorido a um cenário que, desde Morning Phase, estava um tanto quanto sombrio e melancólico. [highlight color=”yellow”]É um disco coeso, que se propõe a coisas que seus antecessores ainda não haviam explorado[/highlight] em tanta profundidade e que, por isso mesmo, merece seu lugar ao sol na peculiar discografia de Beck.