A Water Rats sempre trilhou o caminho contrário do senso comum a respeito do garage punk. Ainda que o grupo curitibano, mas radicado em São Paulo, abrace a urgência e agressividade, o quarteto passa à margem da simplicidade atribuída às bandas do gênero. Também é notável que, apesar das novas ondas surgidas nas últimas duas décadas, influenciadas pelo garage punk, a Water Rats optou por construir uma sonoridade calcada na essência mais pura do gênero, porém sem usar a ausência de recursos estilísticos como desculpa para um rock de outros excessos.
Não por outra coisa, seus dois EPs (Water Rats, de 2012, e Hellway to High, de 2016) e seu primeiro álbum completo (Ugly by Nature, de 2014) eram o resumo dessa urgência. Distorções, riffs acelerados e a busca por uma musicalidade complexa dentro dos limites da proposta do próprio quarteto. No entanto, a chegada de Year 3000, segundo álbum completo da banda, lançado no início deste mês, dá mostras de que o grupo parece decidido a dar um passo adiante na carreira.
Year 3000 ainda carrega a urgência e os riffs agressivos que marcaram a discografia da Water Rats, mas cria um flerto com o stoner rock que confere maior complexidade e peso ao trabalho dos curitibanos. Se a cada trabalho o quarteto entregava um trabalho mais lapidado que o anterior, com Year 3000 parece ter atingido o ápice da maturidade sonora, capaz de compreender que é possível sair da mesmice, beber em outras fontes e soar original sem trair suas raízes.
Year 3000 ainda carrega a urgência e os riffs agressivos que marcaram a discografia da Water Rats, mas cria um flerto com o stoner rock que confere maior complexidade e peso ao trabalho dos curitibanos.
Ainda que o peso marque presença no novo LP, o trabalho ímpar da dupla de guitarras da banda, sempre eficaz na arte de elaborar riffs ágeis, transitórios e pungentes, está ali – e também as faixas concisas, partes de uma narrativa sucinta e potente, integrantes da mesma marca registrada do grupo. Não se sabe ao certo se este caminho é sem volta, mas fica a torcida para que seja. Year 3000 é um bom exemplo de como visitar outras referências pode agregar bastante à sonoridade do grupo, especialmente quando esta viagem não representa um apelo simplesmente comercial.
Se exigimos dos artistas sinceridade no trabalho que desenvolvem, a Water Rats foi feliz em suas composições. Faixas como “Rolling Stoners”, “Feels All Fools Right” e “Yeah Yeah Yeah” desafiam os ouvidos contaminados pelo excesso de virtuosismo dos gêneros mais pesados do rock and roll, ao mesmo tempo em que oferecem frescor ao garage punk brasileiro, que, é importante frisar, segue fazendo a cabeça de muita gente entendida do assunto. Vale lembrar, este ano a banda já lançou um split com o duo chileno Magaly Fields chamado Processive Generation. O registro gerou uma turnê que passou pelo Sul do Brasil, além de Buenos Aires, na Argentina, e Concepción e Santiago, ambas no Chile.