Josh Homme trilhou um longo caminho na música norte-americana. A começar pela pancadas na californiana Kuyss, o xadrez do grunge no Screaming Trees e a força do stoner rock a frente da Queens of the Stone Age, Homme criou uma história criativa e pulsante no rock. Seus riffs, acompanhando canções minimalistas, um baixo denso e uma bateria selvagem, definiram um período de transição entre o grunge feito em Seattle e o rock progressivo orquestral que ganharia força com os ingleses do Muse, especialmente na primeira metade do século 21.
É neste meio-campo que a curitibana Divinora, banda formada por Felipe Hotz, Caio Cavalli, Erick Favero e Fernando Queixada, procura trilhar seu início de história por meio de seu disco de estreia, Aqui e Agora. Gravado no estúdio Vox Dei, em Curitiba, e produzido por Tiago Brandão (também responsável pelos trabalhos da Mens Sana e Josh Making Songs), Aqui e Agora é mais um exemplo de como a produção autoral em Curitiba tem uma retaguarda capaz de entregar trabalhos redondos e que em nada, literalmente nada, deixam a desejar para estúdios além dos limites do Paraná.
O disco apresenta curiosamente, e sem nenhuma pretensão de soar assim, uma divisão em três atos, com duas características muito distintas entre si. A primeira divisão, e que marca a fase mais crua de Aqui e Agora, começa em “Onde a Vida Está”. A canção, que abre o álbum de 11 faixas, descarrega uma carga pesada de riffs, bem ao estilo stoner rock. O trabalho feito por Hotz ao longa da música, tanto no baixo quanto no vocal, deixam ela mais cadenciada, agradável, criando linhas melódicas apropriadas para o gênero, que não destoam ao procurar um tom mais grave.
O resultado final do disco é bom para uma banda estreante.
A segunda divisão do disco – deixando claro que esta é apenas a forma como o vejo, e não uma divisão propriamente dita – inicia em “Todo Nosso Tempo” e se estende até “Não Podemos Voltar”, sexta faixa do álbum. Essas cinco canções modificam um pouco a essência do que a abertura nos mostra. A Divinora soa mais pop, mais suave e, até, um pouco mais comercial. Não que isso seja um defeito, afinal, o objetivo da música é ser ouvida, atingir o maior número possível de pessoas. As composições são mais palatáveis ao ouvinte médio – e remetem ao Capital Inicial no início da era Yves Passarell. Apenas causa estranhamento essa mudança brusca, justamente pela sonoridade sofrer outra guinada – a terceira divisão e retorno à primeira característica – a partir de “Até Onde Vai”.
Em “Até Onde Vai”, retornam os riffs minimalistas em compassos rítmicos que aceleram conforme a canção se encaminha para seu ápice. “Get Away” aumenta a distorção, acrescentando riffs e versos grudentos, incorporando os bridges do post-grunge noventista. Juntamente com “Onde a Vida Está”, é a melhor do disco. “Nunca é Sempre” e “Palavras Iguais” seguem à risca a receita, preparando terreno para o bom arremate com “Sem Horizonte”, última faixa de Aqui e Agora.
O resultado final do disco é bom para uma banda estreante. Felipe Hotz, Caio Cavalli e Erick Favero trouxeram uma boa dose de peso e distorções, características de outros trabalhos do trio, como na já extinta Billie Walker. Aqui e Agora é coeso e potente, como o single liberado algumas semanas antes prometia. Agora, apenas o tempo dirá se o grupo optará pelo peso e a crueza da originalidade ou o caminho menos esburacado do pop. O resultado será um só: muita Divinora pela frente.