O rock alternativo é que nem coração de mãe: cabe de tudo um pouco. É na veia desta alternatividade que inúmeros gêneros e vertentes se cruzam, dando diferentes representações a um rock que já é, por si só, bastante miscigenado. No caso dos curitibanos da Estação Zero Grau, por exemplo, a escolha passa pelo pop, mas também evoca nuances do hardcore, do britpop e do college rock.
Três coisas saltam aos ouvidos logo nas primeiras audições de Quarenta e Cinco, segundo EP dos curitibanos. Primeiro, que o segundo registro em 12 anos de estrada é muito melhor produzido que o anterior, De Tempos em Tempos, de 2016 – mesmo que a captação em home-studio ainda deixe o resultado aquém do que é perceptível serem capazes de entregar. Segundo, que Quarenta e Cinco apresenta arranjos melhor orquestrados e riffs muito mais intensos. Terceiro, que a segunda voz utilizada em “Lapso” é desnecessária, dando a sensação de um ruído incômodo.
O maior mérito da Estação Zero Grau é trabalhar com tantas texturas sonoras e conseguir não tropeçar no exagero estilístico, ou mesmo na cacofonia.
O maior mérito da Estação Zero Grau é trabalhar com tantas texturas sonoras e conseguir não tropeçar no exagero estilístico, ou mesmo na cacofonia. Se o resultado não chega a ser tão primoroso, também não podemos apontá-lo como pastiche. Entretanto, fica bem evidente que a centralização do estilo da banda certamente lhes conferiria uma voz mais imponente no circuito da música autoral – a grande lição que as maiores bandas da história da música deixam é que uma identidade marcante é a razão pela qual sua arte se perpetua.
Quarenta e Cinco é um olhar cuidadoso para o cotidiano e os relacionamentos dos artistas envolvidos. Esse recorte específico dá um tom não apenas muito pessoal, mas também bem contemporâneo ao trabalho do sexteto. Gilberto Sanabe, Maykel Esser, Iggo Julio, Tiago Ferreira, Rike Reis e Guilherme Regazzo usam as quatro faixas do novo EP para contar uma história, mais madura e concreta do que já haviam feito. E aqui não importa muito se esta história que eles se propõem a contar é universal, pois o caráter do disco é bem íntimo.
E então chegamos ao fator certamente único deste Quarenta e Cinco. O registro é tão íntimo que gera, quase instantaneamente, uma identificação com seu público. Ele parte da banda, mas passa a ser reinterpretado pelo público e pela cena independente da qual fazem parte. A verdade exigida na música, que confere uma sensação de pertencimento ao fã quando defronte da obra, está ali.
Fruto da concepção sobre a vida de artista independente dos músicos, que acreditam na força da união neste cenário tão ingrato e, por vezes, tão desnecessariamente competitivo, o novo lançamento da Estação Zero Grau imprime, sem sombra de dúvida, essa preocupação.