Nem nossa sanha rotulista seria capaz de resumir o que apronta Angelo Souza, o recifense que atende pelo nome Graxa. A veia psicodélica é forte em seu trabalho, mas a robustez de suas composições abrange influências muito maiores, tornando o resultado uma forte mescla de psicodelia e agressividade salpicados com ironia e sarcasmo.
Em seu disco de estreia, Molho (2013), o músico pernambucano apresentou uma obra desafiadora e, ao mesmo tempo, ligeiramente intimidadora, tipo de sonoridade que prende o ouvinte no desenrolar das audições – só assim para decifrar as mensagens escondidas em cada uma das 15 faixas.
Integrante de uma geração que cresceu no pós-manguebeat, Graxa lançou Aquele Disco Massa em 2015, um registro mais cru que o anterior, calcado nas bases do rock’n’roll. O overdrive dá as caras nas faixas, recheadas de críticas bem-humoradas à indústria cultural. O “cronista do Jiquiá”, como o cantor e compositor é conhecido, falava de situações do cotidiano com doses de irreverência, tendo como alvo, também a relação entre artista e mercado.
Diferentemente do registro anterior, Aquele Disco Massa trazia uma banda-base e uma sonoridade mais orgânica. Pegue Velvet Underground, MC5, Stooges e os malditos da MPB, jogue no liquidificador e talvez você consiga compreender como o segundo disco do Graxa soa.
Na independência, Graxa segue firme sua existência musical prolífica, concatenando ideias em forma de riffs e riffs em forma de poesia sonora.
2017 chegou e com ele Graxa apresentou novidades. Primeiro, integrou o projeto de releituras do icônico disco Os Afro-Sambas, interpretando a faixa “Bocoché”. Já em julho, o músico apresentou seu terceiro trabalho, A Concorrência É Demais. Seguindo a trilha iniciada em Aquele Disco Massa, Graxa assume o papel de uma espécie de “flâneur musical”, novamente lançando olhar para a indústria musical e o meio artístico, narrando a massacrante concorrência do universo da música, a melancolia dos astros do rock, a rotina de trabalho e outros temas.
O personagem deste álbum possui traços autobiográficos: Angelo vive a vida entre o trabalho como músico e a rotina de torneiro mecânico na oficina do pai; ainda por cima, é cronista e carpinteiro – o que lembra muito a história do escritor Luiz Ruffato. Na independência, Graxa segue firme sua existência musical prolífica, concatenando ideias em forma de riffs e riffs em forma de poesia sonora.
Chama atenção em seu último lançamento o projeto gráfico, inspirado no quadro “Operários”, da modernista Tarsila do Amaral. Adaptado, a capa de A Concorrência É Demais traz artistas e personalidades pernambucanas como Miguel Arraes, Graça Araújo, Palhaço Chocolate, Paulo Freire, Rogê entre outros. Nada melhor para marcar uma obra que, à sua maneira, é uma proposta de rock bem à brasileira.
NO RADAR | Graxa
Onde: Recife, Pernambuco.
Quando: 2013.
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