Os mais de 10 anos de carreira não permitem que chamemos Giovani Cidreira de novato, ainda que apenas agora tenha chegado ao público seu primeiro álbum cheio, Japanese Food, fruto de uma parceria entre a Balaclava e a Natura Musical. Dono de um timbre ímpar e de uma inigualável capacidade de construção lírica, Cidreira nos oferece um dos melhores álbuns de 2017, que está disponível para download gratuito no site do cantor.
A história de Giovani começa com a Velotroz, banda na qual permaneceu de 2007 até 2014. Já no ano seguinte, o soteropolitano lançou seu primeiro EP, um disco homônimo que continha sete faixas, um registro mais pop, com uma sonoridade comum e pouco desafiadora. Ainda que sonoramente pouco inventivo, o disco rendeu ao músico o prêmio de melhor canção no XII Festival de Música da Educadora FM com a faixa “Ancohuma”.
O intervalo entre a estreia solo e Japanese Food serviu para dar a Cidreira maturidade, mas também a oportunidade de lapidar seu talento e organizar melhor as influências.
O novo disco apresenta um músico que atravessa gêneros, pouco interessado em seguir uma única vertente. Se há referências ao indie moderno, ele também viaja na alternatividade oitentista. Contudo, é quanto Giovani rasgas as convenções e divergências entre a MPB e o rock que chegamos ao ponto alto de sua obra.
Ao longo dos 50 minutos de duração do disco, o multi-instrumentista deixa claro que seu ouvido caminha (e caminhou) por diferentes artistas, épocas e movimentos, embaçando nossa máquina invisível de rotular. Contudo, é impossível não captar a forte influência que Milton Nascimento e o Clube da Esquina exercem no novo registro do músico baiano.
Até a forma como Giovani Cidreira encaixa as sílabas das frases de suas canções durante o momento em que as interpreta trazem à memória a imagem de Bituca.
O intervalo entre a estreia solo e Japanese Food serviu para dar a Cidreira maturidade, mas também a oportunidade de lapidar seu talento.
Ao mesmo tempo, junta-se ao seu timbre e à sua condução vocal seu exímio poder de escrita, resgatando a escola de compositores como José Augusto, Fernando Brant e Ronaldo Bastos.
De Renato Russo, Cidreira herdou a veia integradora de linguagens artísticas, que amplificam a mensagem, como na faixa “Última Vida Submarina”, por exemplo. “Comecei a navegar e nada/Porque tudo me parece incerto/Essa culpa percorrendo a calma/Sua falta me deixando mudo”, canta o músico. É importante frisar que Paulo Diniz divide parte das composições com Giovani.
Essa versatilidade presente em Japanese Food também é resultado do grande trabalho de produção, do qual participaram Tadeu Mascarenhas (Manuela Rodrigues, Maglore) e Diogo Strausz (R.Sigma, Alice Caymmi, Castello Branco, Leo Justi), este último procurado como forma de trazer alguém de fora da equipe que estava envolvida na gravação para dar novos ares, como o músico contou em entrevista concedida a Renan Guerra no Scream & Yell.
Já Andre Borges (Crac!), Josyara Lélis e Junix fazem participações especiais no álbum, alavancando a sonoridade deste disco e contribuindo para que ele seja um marco de profundidade, sutileza e imponência na cena musical brasileira.
NO RADAR | Giovani Cidreira
Onde: Salvador, Bahia.
Quando: 2014.
Contatos: Facebook | Twitter | YouTube | SoundCloud
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