Conheci a banda-fôrra no já distante ano de 2015, quando entrei em contato com o EP homônimo que lançava o grupo para o universo. Desde lá, o que o quinteto paraibano fez foi se reinventar.
É bem verdade que a verve psicodélica do quinteto nunca seguiu ao pé da letra o que se imaginaria do gênero. E nesse amálgama de referências distintas, talvez díspares a quem apenas lesse uma descrição da banda, estava o cerne do que os tornava únicos.
Trilha, lançado em 2018, mostrava que o grupo assumia uma versão mais pop, na boa acepção do termo. Deixava o trabalho da banda mais palatável a uma parcela do público e seguia sendo bem executado, mesmo que menos original.
Nos últimos dias, a banda-fôrra lançou seu segundo full length, o também pop Baladas Para Adiar o Fim do Mundo. É uma continuação da estética apresentada em 2018, mas que bebe com mais veemência em referências oitentistas.
Já há quatro anos foi necessário um processo de reencontro com o quinteto paraibano. Outros efeitos, outras concepções artísticas, muitas baladas. E, no novo disco, um misto entre provocação e esperança – sentimentos nada estranhos nesse momento pandêmico-pós-pandêmico-quarta-onda.
Se existem canções para momentos de retomada da vida, talvez o grupo tenha composto não as melhores, mas as necessárias para tempos turbulentos.
É possível afirmar que alguns trabalhos são frutos de seu tempo, e Baladas Para Adiar o Fim do Mundo se encaixa bem nessa prateleira. Guga Limeira, Ernani Sá, Hugo Limeira, Matteo Ciacchi e Lucas Benjamin descrevem bem o sentimento atual: “nós resultamos dessa dor”, cantam na faixa que abre o álbum.
A ideia de que a dor é incontornável coloca diante do público a obrigação de seguir em frente. Como escreveu Tim Hansel em You Gotta Keep Dancin, “o sofrimento é opcional”, ou “é preciso navegar” nas palavras da própria banda-fôrra.
Se existem canções para momentos de retomada da vida, talvez o grupo tenha composto não as melhores, mas as necessárias para tempos turbulentos. Sem exageros, a musicalidade traz, cirurgicamente, sensações djavanianas (numa permissão que me dou de estabelecer este neologismo) e nos transportam para esse lugar, um tanto utópico, é verdade, de proteção.
Baladas Para Adiar o Fim do Mundo é reflexo de um conjunto de artistas que também foi transformado pela pandemia, pela ausência, pelo silêncio das melodias. E, até por isso, ao cantar para nós o grupo paraibano também canta para si, para que não guarde mais as dores que manteve para si, afinal, “serviu de nada”.
Porém, engana-se quem ouve as canções e acredita que há, ali, uma proposta de pontes para o invisível. Há de estar vivo, no sentido mais poético do termo, para “fazer raiar” e nunca mais “fazer se pôr” os corações que insistem em permanecer.
Retomo o início deste texto em que afirmo que a banda-fôrra se reinventou, porque me pego pensando se alguém, efetivamente, sairá o mesmo destes tempos pandêmicos. Como não tenho a resposta, só “vou deixar fluir” a imaginação.
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