No Brasil, quando falamos em música boliviana, acabamos tendo em mente os ritmos folclóricos ou artistas mais tradicionais como Los Kjarkas. Entretanto, já há alguns anos, esse cenário está mudando. Um dos bons exemplos disso é a Avionica, nome artístico de José Mrochek, cantor boliviano. Influenciado pelo irmão, de quem ganhou as partituras de The Wall, do Pink Floyd, aos 15 anos, Mrochek abraçou a música para nunca mais largar.
Além da arrogância que por vezes parece nos entorpecer, a ponto de praticamente ignorarmos a música feita nos países vizinhos – motivo muito maior do que qualquer barreira idiomática, diga-se – existem alguns fatores que corroboram que conheçamos pouco o rock feito na Bolívia. “O que acontece na Bolívia, assim como em outros países latinos, é que somos pessoas que gostamos de dançar e festejar.
O rock ocupa um espaço reduzido em nosso estilo de vida e, por consequência, temos poucos lugares onde tocar; os meios de comunicação, com exceção de poucos, não tocam rock em suas emissoras”, comenta Mrochek em entrevista concedida desde Cochabamba, residência do músico.
‘O rock ocupa um espaço reduzido em nosso estilo de vida e, por consequência, temos poucos lugares onde tocar.’
Essa frase do cantor por trás do codinome Avionica reverbera tranquilamente no Brasil, onde o rock deixou há tempos de ser um gênero visto como popular e acessível. “Isso não quer dizer que não existam muitas bandas, porque, sim, existem, só que não temos os meios necessários para chegar a mais pessoas dentro e fora da Bolívia”, comentou.
Com um EP recém lançado, Electricidad, o Avionica acumula um trabalho ímpar, caminhando por diferentes áreas, indicando que não devemos esperar dele que fique parado em uma zona de conforto. Seu primeiro disco, Space for Rent (2011), foi composto totalmente em inglês, e era um álbum mais pop rock. Seu trabalho seguinte, California (2013), mesclou músicas em inglês e espanhol, trazendo pitadas de eletroindie e synthpop, assumindo um caráter mais universal.
“Electricidad é uma continuação de “Instinto Animal” (single lançado em 2015), mas com canções um pouco mais fortes e, em alguns momentos, mais orgânicas também”, afirma o músico. Ainda que os sintetizadores oitentistas tenham sido mantidos, o álbum tem elementos de rock e pop como características mais marcantes.
Tendo o Pink Floyd como grande referencial, “ainda que hoje eu não os escute como antes”, Mrochek agrega ao DNA de seu trabalho muito do pop e do rock dos anos 80, além de Tom Petty, Rush e Led Zeppelin. “Mas minha banda favorita é Soda Estereo”, sentencia.
Do novo trabalho, chama a atenção, além da contagiante “Instinto Animal”, a faixa que abre Electricidad, “Distante”. Nela, Mrochek divide os vocais com a cantora chilena Francisca Valenzuela, que também já colaborou com o grupo brasileiro Francisco, el Hombre no EP La Pachanga. A discografia completa do Avionica está disponível no Spotify, uma boa forma de ultrapassar as fronteiras geográficas e diminuir as culturais.
NO RADAR | Avionica
Onde: Cochabamba, Bolívia.
Quando: 2009
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