Por vezes, a sensação é de que nos perdemos em busca de uma sonoridade que reflita, em todas suas camadas, todas as idiossincrasias curitibanas. Com isto, nos esquecemos de que na simplicidade é possível encontrarmos a menor partícula do que nos define. A constatação surge logo após a Pão de Hamburguer lançar a primeira parte de seu novo disco, Visconde de Guarapuava.
O “Lado A”, como foi batizado este primeiro conjunto de cinco canções, é um dos grandes trabalhos deste 2017 no Paraná. Esta pretensa simplicidade em Visconde de Guarapuava (Lado A) precisa ser compreendida a partir de toda complexidade que ela evoca. Com arranjos elegantes e certeiros, o quarteto curitibano (anteriormente um quinteto em que três guitarras destilavam riffs hipnóticos) cria cinco faixas coesas, que abraçam o ouvinte com seu olhar peculiar sobre a cidade a partir de um recorte íntimo dos músicos.
O tempo age e foi muito bom para a Pão de Hamburguer. Se o trabalho da banda sempre foi rico, em Visconde de Guarapuava ele atinge seu ápice de maturidade. É, ainda por cima, uma demonstração de como passear por diferentes gêneros e ritmos sem tropeços e sem soar cacofônico.
Diferente do que já haviam feito, os músicos apresentam um leque musical conectado à estética que criaram para seu novo registro.
A montagem da identidade sonora do grupo passa por seus EPs, Ontem e Hoje e Have a Nietzche Day, pelo disco Gravando Curitiba apresenta Pão de Hamburguer, mas é no novo álbum que dá a sensação de que o quarteto tenha, finalmente, chegado no ponto que buscaram ao longo destes doze anos.
Diferente do que já haviam feito, os músicos apresentam um leque musical conectado à estética que criaram para seu novo registro, representativo de um momento ímpar na vida dos artistas, preenchido com o humor ácido e ligeiramente jocoso que, esse sim, é conhecido com parte integrante dos riffs paranaenses. Ao mesmo tempo, entrega elementos modernos da música contemporânea, flertes com a psicodelia, o rock progressivo, linhas de baixo recheadas de groove, tudo num caminho vigoroso entre os limites de gêneros, feito, sempre, de maneira sóbria.
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Visconde de Guarapuava (Lado A) esbanja criatividade, uma verve roqueira que não se intimida em fugir do rigor e chega a propor uma nova forma de encarar esse rock moderno, em que as convenções são deixadas de lado de forma a ser (e soar) mais completo e intrincado. Se a ideia era engendrar uma nova estética de pluralidade no “rock genuinamente paranaense”, a Pão de Hamburguer não apenas é bem-sucedida, mas dá elementos para que entendamos que na música – e na arte de forma geral – os limites e as convenções estão aí para serem (e sempre serão) superados – e reinventados. Que o “Lado B” mantenha o nível – e se possível o supere.