Não fossem os riffs pesados de “Reason to Live” ou a linha de baixo acelerada de “Sense of Mind” e dificilmente poderíamos dizer que estamos diante da mesma Garden of the Eatingtapes que conhecemos nos últimos anos. Mas a Garden of the Eatingtapes não esqueceu as características que levaram o grupo a ser um dos mais inventivos da cena independente do Paraná.
Entretanto, Empathy, terceiro álbum de estúdio do grupo curitibano, apesar de seguir a tradição do trio de lançar mirada a referências sonoras dos anos 90, opta por fazer isso apostando mais no tradicionalismo do rock britânico do que no peso de vertentes como o stoner. Lançado recentemente, com direito a download gratuito na internet, o disco é uma odisseia guitarrística, que tem na força de seus arranjos a substância que dá vigor ao registro.
Empathy é o trabalho mais distinto do grupo, que conta com Twist of Fate e Faster than Light na bagagem. Engana-se, no entanto, quem pense que há menos complexidade no LP. A roupagem que parece dizer que “menos é mais” esconde uma teia intrincada de linhas melódicas orgânicas, consistentes e com uma dinâmica musical invejável. O resultado recorda os ingleses do Oasis em seus Definitely Maybe e (What’s the Story) Morning Glory?, sem chegar a emulá-los ou arriscar em invencionismos.
As composições desta fase do trio dão mais ênfase às letras, enquanto os arranjos de cordas e a instrumentação estão mais variadas, criando um contraste com a crueza e o peso de seus dois primeiros discos.
As composições desta fase do trio dão mais ênfase às letras, enquanto os arranjos de cordas e a instrumentação estão mais variadas, criando um contraste com a crueza e o peso de seus dois primeiros discos. A ausência do imediatismo trazido pelo ronco das distorções é preenchida com uma satisfatória camada de referências, que passam até pelos Fab Four. É bem perceptível o peso do trabalho de Tiago Brandão. Empathy carrega uma mistura sonora que agrega grooves às batidas da bateria da banda curitibana, enquanto baixo e guitarra ficam responsáveis por dar um ritmo ora cadenciado, ora mais rápido, fazendo da variação da narrativa sonora um artifício técnico interessante, resultando em uma mistura final remodelada quando posta em perspectiva com trabalhos anteriores.
Sem nos apresentar nenhum hino ou impulsionar o trabalho por algum pretenso hit, o álbum faz da sinergia do conjunto de canções integrantes e da intensidade entregue pelos músicos envolvidos no projeto, que também conta com a participação de Trosso Trossão (“Far From Here”), Vinicius Zampieri (“Guide”), Cláudio Sant’Ana (“Song of Love”), Cleber Silva e Luís Costa (ambos em “Reason to Live”), sua grande qualidade.
Ainda que de maneira quase silenciosa, o lançamento da Garden of the Eatingtapes é instigante, principalmente por manter viva a chama de um grupo que segue produzindo, mesmo frente a todas as adversidades do universo independente. Um trabalho louvável, sob vários aspectos.