É curioso notar como há algo de nostálgico que permeia a música pop. Ao mesmo tempo em que a música eletrônica dominou as paradas e os DJs viraram popstars, alguns trabalhos ainda fazem sucesso ao trazer os tons que inspiraram o estilo em suas origens. Foi também na música pop que duas artistas conseguiram quebrar o padrão de consumo musical digital via streaming atual, ao fazer o disco físico ser novamente importante, levar as pessoas para uma loja e sair de lá segurando um CD. Primeiro, Taylor Swift no ano passado, agora, Adele, como uma explosão. Cinco milhões de cópias vendidas nos Estados Unidos em três semanas, 3,3 milhões somente na primeira semana e recordes quebrados pelo mundo. Sucesso comercial e elogios da crítica, pela terceira vez a britânica acertou em cheio, com uma força descomunal no mundo da música.
Isso é 25, terceiro disco de Adele, capaz de mexer em toda uma cena. Foi um trabalho capaz de, comprovadamente, adiantar a data de lançamento de vários outros trabalhos pop (One Direction, Justin Bieber, etc), que não queriam competir nas vendas com ela. Tinha apenas um single lançado, vinha quatro anos depois do último álbum e a cantora se mantinha longe da mídia. De onde vem toda essa força da Adele? A resposta vem na primeira audição de 25, um disco que impressiona como se tivesse vida própria, te segurasse pelo braço e pedisse para você ficar.
Os talentos de Adele nós já conhecemos faz tempo. 19 (2006) era um trabalho de estreia perfeito na mistura de música contemporânea e jazz, como uma Amy Winehouse gospel. 21 (2011) era a consagração da cantora como estrela pop. Tocou em qualquer lugar que você pode imaginar, da novela da TV ao bar alternativo. 25 vence e impressiona ao juntar os pontos dos dois discos anteriores. Ele tem a nostalgia de 19 e a capacidade hit maker de 21. Ele não é mais monotemático como o trabalho anterior, que era baseado em um romance. O tema continua presente, mas divide espaço com a infância da cantora, que tenta fazer as pazes com ela mesma enquanto lembra com nostalgia os erros e acertos anteriores. Essa passagem de tempo, aliás, é extremamente relevante na música da Adele, algo visível pelos próprios títulos dos discos, sempre nomeados com a sua idade naquele momento. A música, seja a que você está ouvindo ou compondo, é um dos melhores registros biográficos que podemos ter. Esse é o registro dela aos 25.
A música, seja a que você está ouvindo ou compondo, é um dos melhores registros biográficos que podemos ter. Esse é o registro dela aos 25.
O disco começa com o single “Hello”, uma música que é a cara da Adele que já conhecemos, mas logo em seguida parte para uma aventura taylorswiftzada que, por mais estranha que pareça, funciona. “Send My Love (To Your New Lover)” é uma balada pop animada que gruda, assim como “Water Under The Bridge” em uma escala menor. Músicas feitas para tocar no rádio que contrastam com as pesadas “River Lea” e “All I Ask”. No entanto, nenhuma chama tanto a atenção quanto “When We Were Young”. A quarta faixa traz toques de R&B e é o maior exemplo do que a voz dela é capaz. Assim como foi “Chasing Pavements” e “Hometown Glory” no debut, ou “Turning Tables” no segundo, é uma música que parece brilhar no meio do disco. Ela cresce, tem força, é nostálgica e singela no começo, até ganhar vida com a voz, que parece fazer com que nada ao seu redor tenha importância. É o tipo de música que dá pra imaginar Adele cantando sem nada de fundo, somente sua voz.
Se toda geração precisa do seu cantor romântico, não resta nenhuma dúvida que Adele é de longe a mais talentosa dos tempos atuais. Como qualquer canção romântica, pode enjoar com o tempo, mas é no primeiro contato que se sente a força. Inofensivo, um termo tão fácil de aplicar na música em hoje em dia, não passa perto de 25. Algo ele vai evocar, seja tristeza, beleza ou ambos. E é isso que Adele tem de especial.